diz-se no livro Um Homem Apaixonado, de Karl Ove Knausgård, que não vale a pena escrever se não for para ir a um lugar desconhecido. cito de cor, mas creio poder dizer com segurança que não erro. fiquei com a frase na cabeça assim que a li e tenho pensado nela desde aí, perguntando-me, confesso, se chego a lugares desconhecidos quando escrevo e, assim, se pode chamar-se literatura aos textos que crio. sempre me pareceu uma palavra demasiado pretensiosa e o que faço, seja lá o que for, o contrário disso. não sinto necessidade de nomear aquilo que faço, de saber o que é. durante todo o dia penso em escrever, desde que acordo até adormecer. por vezes anoto pequenas frases ou ideias, mas por norma escrevo mentalmente com o material do mundo até que ele adquira a força que procuro, altura em que tenho de o expelir. para chegar a essa fase, contudo, esse material tem de vencer o cansaço com que se resguarda. é essa a grande batalha, aquela em que se forma uma palavra com a força suficiente para dar origem a um texto. é essa palavra que não sabemos onde nos levará.