14 de julho de 2015

13 de julho de 2015

Confesso enxuto que queria me afogar pra saber como é ser mar.

Valentim Pirat

8 de julho de 2015

Seremos sempre tentados a procurar para a forma um outro sentido que não o dela própria, e a confundir a noção de forma com a de imagem, que implica a representação de um objeto, e sobretudo com a de signo.

Henri Focillon, A vida das formas.

7 de julho de 2015

Aminatou está grávida de nove meses. Deseja um filho forte e saudável mas a timidez impede-a de fazer perguntas aos médicos. A sua sogra Adja, que vive com ela e com o marido, Bintou, decidiu que durante os três primeiros dias após o parto Aminatou dará leite de cabra ao bebé, por considerar que o primeiro leite materno é impuro. Adja pensa que a origem do leite materno está nas relações sexuais mantidas antes da conceção. Persistentemente, desde que foi escolhida para ajudar ao parto no domicílio, Mariam procura argumentos para explicar a Adja que amamentar é um ato natural e constitui a melhor forma de alimentar e proteger o bebé, que o leite materno se adapta às necessidades da criança e contém tudo o que precisa. Mas a maternidade é uma condição férrea e Adja encontra no seu filho, um homem alto e robusto, todos os argumentos para prescindir de qualquer justificação, ignorar os conselhos e impor o preceito à nora.
No dia em que Kiluanji nasce, Bintou coloca o recém-nascido sobre uma napa, entre as pernas da mãe. Mariam corta o cordão. Cega de cansaço e de dores, ignorando a decisão de Adja, Aminatou oferece o peito ao filho mas o recém-nascido não consegue mamar. O leite sai, é um líquido espesso e amarelo, primeiro apenas umas gotas, depois um fio que escorre sobre a pele, mas Kiluanji não bebe. Bintou, que vê de soslaio a mulher desobedecer à mãe, mantém-se de costas para ela e, fingindo não ver, sai pouco depois do quarto, levando a mãe consigo para anunciar o sucesso do nascimento à comunidade. Uma pequena mancha de humidade depositou-se no chão junto à perna de Aminatou, que por momentos desvia a atenção do seu bebé. Repara que, com o calor, o restolhar das folhas das árvores se tornou raro. A terra está seca, morbidamente seca. Não há cheiros, o ar possui a qualidade do isolamento. Extenuante, até a noite tem luz. É o tempo do encontro dos homens com si mesmos e, como todo o encontro com si mesmo é pejado de pudor e desonra, Bintou evitou olhar para ela. Mas disso, por não pertencer ao intelecto, Aminatou nunca falará. Aminatou olha para Kiluanji cujas pálpebras se abrem e fecham delicadamente e assiste à revelação daquilo que o faz ser quem é, aquilo que nele é inesquecível e que todos verão ainda no dia em que morrer. Subitamente, o queixo toca na mama e o lábio inferior volta-se para o exterior, deixando a aérola mais visível acima do que abaixo da boca. Aminatou separa-se finalmente do mundo e apazigua-se. Nunca regressará.

6 de julho de 2015

SEGREDOS PELO CAMINHO 

A luz do dia bateu no rosto de alguém que dormia. 
E esse alguém teve um sonho com mais vivacidade, 
ainda que sem acordar. 

As trevas bateram na cara de alguém que ia a andar entre a multidão, 
sob os raios impacientes e fortes do sol. 
De repente escureceu, como quando cai uma bátega. 

Eu encontrava-me num quarto com espaço para todos os instantes
a sala de um museu de borboletas. Ali, porém, o sol brilhava tão intensamente como antes. 
Os seus pincéis impacientes davam cor ao mundo. 

Tomas Tranströmer