25 de abril de 2013

Acho bem que se dance muito no dia 25. E que se vá à praia. Que se passeie nos jardins e se convide a pessoa que desde a Primavera passada se queria convidar. Que se leia a tarde inteira com o telemóvel desligado. Que se almoce com a família. Que se passe o dia entre filmes e sesta. Que se vá ao cinema. Que se vá ao teatro. Que se saia com uns amigos para comer caracóis e beber jolas. Que se faça meditação a tarde inteira. Que se penteie os gatos e se mime os gatos e se brinque com os gatos. Que se passeiem os cães à beira-rio. Que se passeiem os cágados. Que se desenhe, que se escreva, que se oiça música, que se compre música que se faça música. Que alguém me ofereça um cartaz destes. Acho bem que se faça amor da madrugada à noite do dia 25. E acho mal de toda a gente que disser mal.

23 de abril de 2013

Oiço muitas vezes falar da extraordinária capacidade dos bichos de compreenderem a linguagem humana. Dez, cem, mil palavras, uma palavra que seja, parece sempre surpreendente. Nunca oiço falar de como é extraordinário uma pessoa perceber o que o miar de um gato significa.

15 de abril de 2013

Abandonei a festa como se fugisse de um lugar assolado pela doença e pela morte. Uma obscuridade deformava monstruosamente a linguagem, os rostos e os gestos. Havia medo. Havia ganância, futilidade, mentira, ilusão, uma miséria intolerável como um pesadelo. Sono, delírio, a gestação de crimes profanos. Saí para respirar mas durante algum tempo o ar pareceu-me pútrido como o ar da cama onde transpirámos com febre, a cama que nos foi estranha ao regressar desses pesadelos. Como num delírio febril, residia a suspeita, ou a intuição, de que a pestilência invadia a vigília e vigiava.
Mais tarde, já a caminho de casa, senti-me devolvida a um tempo adolescente, onde a dor e a carne florescem. Esse vasto território onde a luz é permanentemente arrancada à sombra.