18 de junho de 2017
quando alguém dançava com ela ficava excitado. eu sabia e tinha guardado o segredo até que fizemos uma festa. olhei para ela na pista de dança, sorrindo subtilmente enquanto dançava com M.. as suas pernas enrolavam-se nas dele, os seus braços, leves e finos, pousavam-lhe delicadamente nos ombros. depois de dançar com ela, M. veio sentar-se à minha beira e disse-me: «fico sempre um pouco
constrangido em dançar com a V. porque fico logo excitado». a declaração irritou-me. eu tinha tido uma relação sofrida com M., da qual V. conhecia os detalhes. oficialmente as coisas entre nós ainda não estavam resolvidas e senti
ciúmes, não queria que ela dançasse com ele assim nem com mais ninguém, queria ser única. nisto, começa a ouvir-se o These Arms Of Mine do Otis Redding e ela avança para mim, puxando-me pelo braço para me levantar e dançar com ela. o meu nervosismo assomou, tremeram-me as pernas, corei imediatamente. sem hesitações, enlaçou-me, dançámos languidamente, os corpos colados um no outro. lembro-me do cheiro do cabelo dela, da cintura fina abaixo de um peito generoso, de como era alta e magra, da saia comprida, da penumbra que nos rodeava. esqueci tudo o resto, só ela existia abraçada a mim. no final da música, surpreendeu-me que o seu sorriso se tivesse apagado um pouco e, sobretudo, de também ela ruborizar, afastando-se de mim com uma certa resignação. não demorei muito a perceber que também ela tinha ficado excitada. quis convidá-la para dançar mais uma música mas com isso denunciaria às claras o desejo entre nós, até aí camuflado. olhei para ela que se afastava em direção ao fundo do salão até deixar de a ver. não dançou com mais ninguém.