8 de dezembro de 2015

fui-me embora e estou a refletir sobre isso há muito tempo. se faço bem as contas, há quarenta e um anos. e há vinte anos que não recebo visitas. fico a olhar dias inteiros para os quadros na parede. num veem-se ovelhas no prado, mas sem pastor. noutro, um homem com bigode, no silêncio e na solidão. através da parede verde, estão ligados um ao outro. inflexíveis, não confessam nada. rodo a maçaneta da sala com uma mão trémula e fixo nisso a minha atenção. foi aí, nesse momento, que recebi a notícia. no silêncio, na solidão. a solidão também não tem nada assim tão misterioso. pensei um pouco na minha infância mas tenho curta memória, construí a minha infância artificialmente. o fogo ardia na lareira, amarelo e negro. tinha que ser assim.