8 de dezembro de 2015

— Ouço sirenes.
— Sirenes? Está um silêncio atroz.
— Ouço inúmeras sirenes, muitas, em múltiplas direções.
— De que é que estás a falar? Não se ouve nada! Não se ouve o pio de um mocho!
— Ouço inúmeras sirenes, são incontáveis.
— Estás-te a passar.
— Estou a ouvir as sirenes do mundo inteiro, de todos os carros com sirene que estão a passar. Estas que passaram agora, não ouviste?
— Não faço a mais pequena ideia do que estás a falar.
— Não ouves? Estas eram em Londres. Também se ouvem, distintamente, sirenes de São Paulo, do Cairo, de Djibuti e de San Salvador.
— Mas quais sirenes meu?
— Estão a passar. Estão todas a passar. E eu estou a ouvi-las a todas ao mesmo tempo, de toda a parte. As sirenes nunca se calam, estão sempre a soar. É ensurdecedor. O som fere os ouvidos e come os outros sons. De ti por exemplo, o que é que oiço, o que é que não oiço? Não posso saber com tanta sirene. E daqui não posso sair, não posso ir a lado nenhum. Nem mesmo quando adormeço há silêncio, também aí as ouço, por vezes com um som ainda mais claro, e assustadoramente posso ver uma sirene soar ao lado que eu sei que está em Nairobi, e contudo vejo-a passar ali mesmo ao meu lado. O mundo é uma sempiterna orquestra de sirenes. É isso que é. É ensurdecedor. Não ouves?