14 de junho de 2025

“Sob o imenso firmamento alpino, no silêncio sussurrante dos prados, era praticamente impossível permanecer um Eu individual e isolado, manter uma vida pacata, cega e obstinada, teimando em não integrar a grande comunidade. Se outrora tivera verdadeiro orgulho em levar uma vida desse género, na pastagem alpina pareceu-me, de repente, uma existência deveras miserável e ridícula, uma bolha de ar feita de nada.” 

Marlen Haushofer, A Parede. 
[Trad. de Gilda Lopes Encarnação]

19 de maio de 2025

“How can I describe my life to you? I think a lot, listen to music. I’m fond of flowers.”

Susan Sontag

12 de maio de 2025

costumo sentar-me perto deste canteiro na estrela. é um canteiro de alecrim e alfazema. quando as crianças passam, arranco a ponta de uma folha e ofereço-lhes, digo-lhes para cheirar. é o meu truque para gostarem logo de mim. normalmente ficam embasbacadas, não sei se com o cheiro se com uma estranha a falar para elas, e afastam-se lentamente, a custo, arrastadas pelos pais, sempre a olhar para trás na minha direção. também há as que me ignoram imediatamente, mal levam as mãos ao nariz, e desatam a falar pelos cotovelos, a correr de mão estendida no encalço do pai ou da mãe. há um banco mesmo à frente onde me sento a ler ao sol. se bem que hoje fui para lá escrever, com o computador mal empoleirado em cima dos joelhos e a apanhar sol também. o banco fica na entrada de um caminho. com outro arbusto logo à frente está resguardado, mas vê-se as pessoas a passar na estrada principal como se estivéssemos numa plataforma ligeiramente elevada. a maioria não dá por mim ali. as crianças não são a maioria. 
este arbusto era alto, frondoso, denso, parecia inesgotável. agora, depois de um crime a que falsamente chamaram poda, está assim. desde que o moedas está na câmara também fecharam os portões. há quatro portões na estrela e, antes, os portões abriam de par em par a toda a volta do jardim. agora há dois portões sempre fechados e nos dois que restam apenas abrem uma porta. há umas baias de plástico presas a pequenas estacas de madeira que rodeiam vários canteiros em permanência e se vão deteriorando com o sol e a chuva. o coreto foi fechado. de vez em quando, havia ali aulas de dança de salão, toda a gente podia ir. disseram que ia para obras de manutenção e puseram uns painéis de plástico à volta com a história elogiosa do jardim. as obras nunca chegaram a começar. os lagos continuam sem água. a japoneira continua raquítica. os músicos com colunas continuam a aparecer regularmente. são sempre os mesmos, a lei existe, simplesmente não há controlo. com a chuva que houve, a relva está a voltar. mas o verão vem aí. o que sobra da estrela talvez desapareça este ano.

23 de abril de 2025

Com desmedida vaidade recebi a notícia que o meu último texto publicado na Buala, Ela desnomeia, foi traduzido para inglês. Não tive até aqui muitas oportunidades para publicar, mas a Marta Lança, editora na Buala e na extinta V-Ludo, foi a responsável por várias delas, trazendo-me, desde 2001, convites tão desafiantes como inspiradores. E agora esta alegria.

I was overjoyed to hear that my latest text published in Buala, She Unnames, has been translated into English. I haven't had many opportunities to publish so far, but Marta Lança, editor at Buala and at the long-gone V-Ludo, has been responsible for several of them, bringing me invitations since 2001 that were as challenging as they were inspiring. And now this joy.

20 de abril de 2025

Um passeio descontraído

enquanto caminho
vou contando
ameixeiras e salgueiros

Matsuo Bashô

16 de abril de 2025

“O som aniquila a grande beleza do silêncio.”

Charles Chaplin

6 de abril de 2025

Está online o texto Ela desnomeia, que escrevi, a convite da Buala, a partir do conto She Unnames Them, de Ursula K. Le Guin:

Num ensaio de 1985, intitulado She Unnames Them [Ela desnomeia-os], Ursula K. Le Guin imagina uma contra-história do início da humanidade através da história de Adão e Eva. Todos conhecemos essa história. Ela é-nos contada como uma metáfora para a vida na Terra, onde o esforço se substituiu à abundância do Paraíso, o sofrimento às delícias e a morte à eternidade, uma vez que, por culpa de Eva — a palavra culpa é indeclinável no Antigo Testamento —, fomos banidos da morada divina. No livro do Génesis, logo depois de ter criado o jardim do Éden e dado instruções a Adão para não comer os frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal, Deus mostra a Adão «todas as feras e todas as aves do céu» com o intuito de encontrar para ele uma companhia, para que não ficasse sozinho. Até aqui, no relato da Bíblia, era apenas Deus que tinha o poder de nomear. É através da palavra, do nome, que toda a Criação nasce, incluindo Adão e Eva. Todavia, neste momento, Deus decide que todas as criaturas se conhecerão através do nome que Adão, feito à Sua imagem e semelhança, tiver escolhido para elas e, à medida que vai conhecendo os animais, Adão atribui-lhes um nome. Por isso, quando, logo a seguir, Eva é criada, também recebe o nome que Adão lhe dá. Ora, em She Unnames Them, Eva remove a todas as criaturas, como a si mesma, os nomes que Adão lhes havia atribuído. Uma vez anulada a barreira dos nomes, Eva descobre que ela e as criaturas estão agora mais próximas, tão próximas que o medo e a atração entre elas se tornam um só: «the hunter could not be told from the hunted, nor the eater from the food.»

Ursula K. Le Guin lê She Unnames Them aqui. O conto, originalmente publicado na revista The New Yorker, a 21 de janeiro de 1985, pode ser lido e descarregado aqui.

2 de abril de 2025

Quando alguém desabafa
sobre os seus problemas 
a gente escuta
Quando alguém narra
histórias por que passou
a gente ouve
Quando alguém se propõe 
discutir soluções novas
para problemas antigos
a gente participa 
Quando alguém tagarela
e opina e julga e ajuíza
e se desfaz em considerações 
inócuas sobre o fim do mundo
e a decadência dos povos
a gente enche-se de saudade 
dos melros na berma do rio
e afasta-se em busca de silêncio 

Kazuyoshi Matsubara
[Tradução de Juraan Vink]

21 de março de 2025

CORO DE MARIONETAS (tom ríspido e severo) 

"Come isso até ao fim!" 
"Come em vez de estares a olhar para o ar!" 
"Não te levantas da mesa sem ter comido o que está no prato!" 
"Se não comeres, o Papão come-te cru!" 
"É tão bom! Olha, é bom, vês como é bom!" 
"Se comeres tudo, compro-te um jogo." 
"Se comeres tudo, deixo-te ir ver os desenhos animados." 
"Se comeres deixo-te ir brincar." 
"Se gostasses de mim não te portavas dessa maneira." 
"O teu irmão é que se porta bem." 
"Come que não dói nada."

in Como um quarto sem telhado, ed. TNDMII, 2015.

19 de março de 2025

Leio: "Em suma, o nosso fidalgo embebeu-se tanto na leitura, que levava as noites a ler, desde lusco-fusco a lusco-fusco, e igualmente os dias, desde sol a sol. E assim, de pouco dormir e muito ler, aconteceu ressecarem-se-lhe os miolos e toldar-se-lhe de todo o juízo." É das primeiras páginas de Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes (a passagem que aqui cito está na versão de Aquilino Ribeiro). Pouco depois, abro o Facebook e, no perfil da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas leio: "Ler é Ser Livre" (capitais tal como no original). Não posso evitar a abjeção à propaganda de tanta esterilidade e miséria. Seguem-se os pontos de exclamação no esclarecimento, trata-se da celebração de três efemérides, o Dia Mundial da Poesia (21 de março), o Dia Internacional do Livro Infantil (2 de abril) e o Dia Mundial do Livro (23 de abril). Estou no início de Dom Quixote e nada mais desejo do que poder enlouquecer com ele.

9 de março de 2025

O colosso

"Em relação a esta distância, não tínhamos considerado nem a linguagem nem o silêncio. Eram irrelevantes, não lhe diziam respeito. Na verdade, eram da nossa mãe: usava-os como instrumentos de terror. Com a morte do nosso corpo, havia a promessa da libertação desses instrumentos. Era estranho pensar que, apesar de a lacuna dentro dos nossos corpos continuar por preencher, já podíamos recorrer à linguagem e ao silêncio. Antes, não havia silêncio que não fosse agressão, nem linguagem que não fosse uma tentativa de condenar e controlar. Em face do silêncio, fomos invadidos pelo pânico do abandono; a linguagem parecia uma espécie de mal, capaz de desestabilizar a realidade."

Desfile, Rachel Cusk
[p. 121]

Tenho vontade de escrever sobre o último livro da Cusk, como que para assinalar um marco nas minhas leituras, mas não sei como fazê-lo sem frases que, ao contrário das que ela escreve, irão parecer absurdas, pueris e imprecisas. Gostaria de escrever sobre o sentimento de proximidade que as grandes obras proporcionam aos seus leitores, mas apercebo-me que esse é um sentimento individual e, como a fé, provavelmente intransmissível. Resisti várias vezes a este livro, primeiro na língua original, depois em português, língua em que acabei por ler na tradução de Alda Rodrigues. A primeira página sugeria uma continuidade com Segunda Casa, e o terror perante uma história que voltasse ao tema da sujeição feminina e da opressão masculina impedia-me de continuar, sobretudo num momento em que o trabalho me asfixiava. A minha relação com este livro começou aí: nessa asfixia, nessa resistência, nesse terror, perguntava-me sobre as suas raízes, constatando com tristeza que, embora hoje mais segura, nunca estarei livre delas. Nunca estaremos, deveria dizer. Por isso, e poderão assinalar que é a primeira ingenuidade que aqui escrevo, comecei a ler o livro de maneira a terminá-lo ontem, dia em que se comemoraram os 50 anos da implementação do Dia Internacional das Mulheres. 

Este desfile de G(énios) inflamados, de elucubrações filosóficas, de abstrações solipsistas que se mostram cruciais na definição e na sustentação da identidade, de paisagens e horizontes amplos como de espaços íntimos e reservados, tomou tempo — não uso a palavra tomar de maneira inocente — a revelar a sua matriz e foi apenas na frase que aqui cito, a dezassete páginas do fim, que vi o livro. É um desfile construído com as grandes questões filosóficas, como a liberdade, a morte, o mal, o corpo, a verdade, descritas a partir da existência humana e daquilo que a define de modo mais formal: a divisão, ou a fusão, entre o mundo material e o da mente, entre visível e invisível, acidente e essência, no qual a memória se assume como uma figura magistral, tão dominadora na face em que se dá em plenitude, como terrível na face que a completa, uma carência de onde parece nascer o mal. E também as questões da psicanálise: o pai e a mãe, os arquétipos da violência, o conflito, o inconsciente, o ego, o amor, a infância, e, entre racional e irracional, o intelecto. As correntes ligam-se, avolumam-se, passam, criam belas imagens, personificam-se, e o barulho que fazem ao passar perdura, empurrando as paredes do cérebro para fora, não para as ampliar, mas para manter em silêncio o que dele poderia nascer. 

Comecei por dizer que gostaria de escrever sobre um sentimento de proximidade com este livro, mas que não poderei fazê-lo sem dizer coisas ingénuas. Não se trata da proximidade avassaladora que temos com os russos, com Shakespeare, ou com algumas obras da literatura moderna, de Kafka a Ernaux. É, aliás, algo que me parece ser impossível acontecer diante destas páginas muitas vezes exasperantes, aborrecidas e alienantes, onde o labor persistente da escrita e a sua teia construída numa paciente composição de remendos, retoques, tempo e repetição, aparecem às claras. É antes uma proximidade de abismo como a que se tem com o violador ou com o pai e a mãe. Parece por vezes intrusiva, como os sustos. Os momentos vão-se somando a esparsas até o desfile terminar, num ritmo cada vez maior à medida que nos aproximamos do final. E no entanto, como se o meu segredo tivesse sido desenterrado e descoberto, em várias páginas, tenho a tentação ridícula de olhar para trás para confirmar se é de mim que as páginas estão a falar. 

A perturbadora aridez da amálgama rendilhada e repetitiva dos códigos binários afunda-nos sem esperança? De onde retirar um sentido, da realidade aleatória que nos agride ou daquela que testemunhamos? Como preservar nos nossos íntimos sujos e desarrumados, atolhados de lixo, onde tanto foi negado, um lugar onde seja possível criar? E como, entre tantos espelhos que apenas refletem outros espelhos, não enlouquecer? Através da história. A perversão, a fealdade, a loucura, bem como a pureza e a esperança, passam a fazer parte da história. 

"Os poucos trilhos eram sinuosos e indiretos, raramente conduzindo ao que parecia inequivocamente mais à frente. Desviavam-se para algures, fútil ou secretamente. Havia mistério nas sombras serpenteantes das ravinas arborizadas e nos canaviais que ondulavam nas planícies à beira-mar; nas colinas, as formas vagas dos descomunais pedregulhos brancos pareciam contemplar insistentemente as glaciais águas azuis. Por trás, elevava-se a montanha, com o seu irregular cume branco arrojando-se insensatamente para o céu. As suas superfícies brancas e prateadas erguiam-se, nuas e inexpugnáveis, numa forma colossal, não inclinada mas cubóide, composta de um sem-número de facetas nestas superfícies retilíneas e faiscantes. A estradinha esburacada pela encosta, rumo ao vale seguinte, serpenteando e voltando a serpentear na descida, através de fendas de vazio arborizado. As cabras permaneciam imóveis nos ramos retorcidos das oliveiras, entre o estardalhaço das cigarras. As canas faziam um som sibilante quando percorridas pelos ventos. O calor estridente desgastava a terra e o céu, tornando-os sem sentido, e sempre, ao longe, permanecia a montanha ilegível, com uma autoridade violenta que era visível de todos os lados." [p. 41]

8 de março de 2025

“Je suis une femme totalement détruite.”

Gisèle Pelicot

22 de fevereiro de 2025

Está online o microsite da Culturgest dedicado ao Matéria Incomum, projeto que tenho estado a dirigir na efabula.

“A verdadeira condição do homem é a de pensar com as suas mãos”, é uma frase do escritor suíço Denis de Rougemont, que Jean-Luc Godard cita no sétimo episódio das Histoires du Cinéma, «O controlo do universo». Fala da Europa, de nações, de liberdade, possibilidades, guerras, ditadores. Não é neste momento, porém, que vemos uma mão pela primeira vez no filme. O primeiro momento em que se fala de mãos, é para dizer que “o amor ao próximo é um ato, uma mão estendida, e não um sentimento encoberto.” Esta caracterização do amor e do pensamento como ação, é algo que gostaria de poder transmitir, compreendendo que tudo o resto possa permanecer na invisibilidade e em silêncio.
 
A Angelika Hinterbrandner, o Andreas Philippopolous-Mihalopolous, a Sepideh Karami, a Lucinda Correia, algumas das mãos que fazem este projeto, têm muito a dizer sobre isso.

Muito obrigada ao Ricardo Batista e à Mag Rodrigues por me terem permitido fazer o vídeo que apresento neste microsite. 

Edição, montagem e sonoplastia: Ricardo Batista
Imagens de balões: Mag Rodrigues
Texto e direção vídeo: Marta Rema

18 de fevereiro de 2025

Darkness
Byron

I had a dream, which was not all a dream.
The bright sun was extinguish'd, and the stars
Did wander darkling in the eternal space,
Rayless, and pathless, and the icy earth
Swung blind and blackening in the moonless air;
Morn came and went—and came, and brought no day,
And men forgot their passions in the dread
Of this their desolation; and all hearts
Were chill'd into a selfish prayer for light:
And they did live by watchfires—and the thrones,
The palaces of crowned kings—the huts,
The habitations of all things which dwell,
Were burnt for beacons; cities were consum'd,
And men were gather'd round their blazing homes
To look once more into each other's face;
Happy were those who dwelt within the eye
Of the volcanos, and their mountain-torch:
A fearful hope was all the world contain'd;
Forests were set on fire—but hour by hour
They fell and faded—and the crackling trunks
Extinguish'd with a crash—and all was black.
The brows of men by the despairing light
Wore an unearthly aspect, as by fits
The flashes fell upon them; some lay down
And hid their eyes and wept; and some did rest
Their chins upon their clenched hands, and smil'd;
And others hurried to and fro, and fed
Their funeral piles with fuel, and look'd up
With mad disquietude on the dull sky,
The pall of a past world; and then again
With curses cast them down upon the dust,
And gnash'd their teeth and howl'd: the wild birds shriek'd
And, terrified, did flutter on the ground,
And flap their useless wings; the wildest brutes
Came tame and tremulous; and vipers crawl'd
And twin'd themselves among the multitude,
Hissing, but stingless—they were slain for food.
And War, which for a moment was no more,
Did glut himself again: a meal was bought
With blood, and each sate sullenly apart
Gorging himself in gloom: no love was left;
All earth was but one thought—and that was death
Immediate and inglorious; and the pang
Of famine fed upon all entrails—men
Died, and their bones were tombless as their flesh;
The meagre by the meagre were devour'd,
Even dogs assail'd their masters, all save one,
And he was faithful to a corse, and kept
The birds and beasts and famish'd men at bay,
Till hunger clung them, or the dropping dead
Lur'd their lank jaws; himself sought out no food,
But with a piteous and perpetual moan,
And a quick desolate cry, licking the hand
Which answer'd not with a caress—he died.
The crowd was famish'd by degrees; but two
Of an enormous city did survive,
And they were enemies: they met beside
The dying embers of an altar-place
Where had been heap'd a mass of holy things
For an unholy usage; they rak'd up,
And shivering scrap'd with their cold skeleton hands
The feeble ashes, and their feeble breath
Blew for a little life, and made a flame
Which was a mockery; then they lifted up
Their eyes as it grew lighter, and beheld
Each other's aspects—saw, and shriek'd, and died—
Even of their mutual hideousness they died,
Unknowing who he was upon whose brow
Famine had written Fiend. The world was void,
The populous and the powerful was a lump,
Seasonless, herbless, treeless, manless, lifeless—
A lump of death—a chaos of hard clay.
The rivers, lakes and ocean all stood still,
And nothing stirr'd within their silent depths;
Ships sailorless lay rotting on the sea,
And their masts fell down piecemeal: as they dropp'd
They slept on the abyss without a surge—
The waves were dead; the tides were in their grave,
The moon, their mistress, had expir'd before;
The winds were wither'd in the stagnant air,
And the clouds perish'd; Darkness had no need
Of aid from them—She was the Universe.

14 de fevereiro de 2025

três pessoas adotaram um gato depois de conhecer o Fausto. nunca tinham tido nenhum gato e diziam: «mas tem de ser assim como este». sentindo falta de atualização de fotografias nas redes sociais, há quem me ligue ou me envie mensagem a perguntar por ele. por ele, não por mim. os meus amigos perguntam pelo Fausto no final dos telefonemas. é curioso como, quem o conhece, passa a falar da «ligação» que temos. curioso sobretudo porque me surpreende sempre que, com toda a sua singularidade, o amor seja tão incontestável.