8 de agosto de 2016
5 de agosto de 2016
da forma como aquilo aconteceu, ficou convencido de que não mudara completamente, embora acreditasse que tudo o que ela disse era verdade. caminhavam devagar sobre a relva bravia. é preciso cortá-la, disse-lhe. temos de arranjar uma máquina, respondeu ela, achas que podemos pedir emprestada a alguém? um pouco ansioso disse-lhe que deviam ter dinheiro para pagar a um jardineiro e comprar uma. ela notou. perguntou-lhe se alguma coisa não estava bem. ele fitou-a nos olhos e sorriu na obscuridade. os olhos dela eram profundos e venenosos quando estava desconfiada. vais-me deixar?, perguntou. ainda não.
4 de agosto de 2016
Balada Amarilla IV
Sobre el cielo
de las margaritas ando.
Yo imagino esta tarde
que soy santo.
Me pusieron la luna
en las manos.
Yo la puse otra vez
en los espacios
y el Señor me premió
con la rosa y el halo.
Sobre el cielo
de las margaritas ando.
Y ahora voy
por este campo
a librar a las niñas
de galanes malos
y dar monedas de oro
a todos los muchachos.
Sobre el cielo
de las margaritas ando.
Federico García Lorca
Sobre el cielo
de las margaritas ando.
Yo imagino esta tarde
que soy santo.
Me pusieron la luna
en las manos.
Yo la puse otra vez
en los espacios
y el Señor me premió
con la rosa y el halo.
Sobre el cielo
de las margaritas ando.
Y ahora voy
por este campo
a librar a las niñas
de galanes malos
y dar monedas de oro
a todos los muchachos.
Sobre el cielo
de las margaritas ando.
Federico García Lorca
3 de agosto de 2016
31 de julho de 2016
Il me semble que, chez un poète, les hallucinations auditives sont en quelque sorte une maladie professionnelle. Les poèmes naissent ainsi – cette idée se retrouve chez de nombreux poètes, chez Mandelstam comme dans le ‘Poème sans héros’ de Akhmatova : on entend résonner dans ses oreilles une phrase musicale obsédante, floue d’abord, précise ensuite, mais encore sans paroles. J’ai eu plus d’une fois l’occasion de voir Mandelstam essayer de se débarrasser d’un air obsédant, d’y échapper… Il secouait la tête comme s’il avait pu le faire comme une goutte d’eau entrée dans son oreille pendant le bain. Mais rien ne pouvait le faire taire : ni le bruit, ni la radio, ni les conversations dans la même pièce. Akhmatova a raconté comment, lorsque lui était venu son ‘Poème sans héros’, elle était prête à faire n’importe quoi pour s’en débarrasser. Elle s’était même mise à faire la lessive, mais rien n’y fit. À un moment donné, des mots surgissaient dans la phrase musicale, et alors les lèvres commençaient à remuer. Il doit y avoir quelque chose de commun entre le travail du compositeur et celui du poète, l’apparition des paroles étant le moment critique qui distingue ces deux formes de création. Parfois, un motif venait à Mandelstam pendant son sommeil, mais une foi réveillé, il ne se souvenait plus des vers qu’il avait composés en rêve. J’avais l’impression que les vers existaient avant d’avoir été composés. (Mandelstam ne disait jamais qu’il avait “écrit” un poème. Il le “composait”, puis le notait.) Tout le processus de la composition consistait à capter avec attention, puis à rendre manifeste l’unité de l’harmonie et du sens préexistante et venue on ne sait d’où, qui se matérialisait peu à peu dans des mots. Le dernier stade du travail consistait à nettoyer le poème des mots fortuits, n’appartenant pas au tout harmonieux avant qu’il se manifestât. Ces mots qui s’étaient glissés par hasard avaient été utilisés à la hâte, pour remplir des blancs au moment où l’ensemble prenait forme. Ils étaient là, et les supprimer était un gros travail. Au dernier stade, il fallait s’écouter douloureusement soi-même, pour trouver cette unité objective et parfaitement exacte qu’on appelle un poème. […] Dans le travail de création poétique, j’observais deux “soupirs de satisfaction” et non pas un : le premier, lorsque apparaissaient les premiers mots d’un vers ou d’une strophe, et le second lorsque le dernier mot précis chassait les intrus qui avaient pénétré dans le poème par hasard. Alors le processus d’écoute de soi-même, celui-là même qui préparait le terrain au dérèglement de l’oreille interne, à la maladie, s’arrêtait. Le poème semblait alors se détacher de son auteur et cesser de le torturer par son bourdonnement. Le possédé était libéré. Io, la pauvre vache, avait échappé à la guêpe. Si le poème “ne se détache pas”, disait Mandelstam, c’est qu’il y a en lui quelque chose qui ne va pas, ou bien qu’il reste “encore quelque chose de caché”, c’est-à-dire un bourgeon d’où cherche à percer une pousse nouvelle ; autrement dit, le travail n’est pas terminé. Lorsque la voix intérieure s’était tue, Mandelstam avait hâte de lire son nouveau poème à quelqu’un.
Nadejda Mandelstam, «Maladie professionnelle», Contre tout espoir.
28 de julho de 2016
em agosto, escreveu: «tenho de evitar o instante a qualquer preço». esta ideia, transformava completamente a sua noção dos corpos, da infância, da loucura e da morte. o que é diabólico deve permanecer incompreensível e isso parecia-lhe agora completamente evidente. dito de outra maneira, a honra, mas também o horror, deixam ambos efeitos devastadores. uma liberdade estranha, como um fogo ou uma malícia, chegou-lhe para companhia e percebeu que aquele era o lugar do segredo que a língua possui. a glória exibe-se mas a verdade é impassível.
27 de julho de 2016
25 de julho de 2016
ao longe, as silhuetas turquesa e longínquas das montanhas luziam. apenas Deus me observava, frio e trocista. o ar estava límpido e fresco e não havia entre mim e o tempo qualquer distância. apesar disso, perguntei-me subitamente o que estava ali a fazer, como se todos aqueles anos pertencessem à vida de uma outra pessoa. os astros, o campo, a margem do rio, a floresta, esvaziaram-se de todo o afeto e eu não podia responder.
21 de julho de 2016
I go to the mountain side
of the house to cut saplings,
and clear a view to snow
on the mountain. But when I look up,
saw in hand, I see a nest clutched in
the uppermost branches.
I don’t cut that one.
I don’t cut the others either.
Suddenly, in every tree,
an unseen nest
where a mountain
would be.
19 de julho de 2016
estou contigo
na escarpa de Helderberg
onde nem o vento
perturba
os nossos corações
que de tanta paz enlaçados
não falam
estou contigo
na escarpa de Helderberg
onde nada do que existe
para ser visto
excede o esplendor
da tua fragilidade
e mistério
estou aqui contigo
na escarpa de Helderberg
e pode ser sempre assim
o silêncio
uma terra perdida
as tuas mãos
um pássaro
estou contigo
na escarpa de Helderberg
sobre nós
cai a primeira neve
e até a nossa sombra
implora para ficar
entre as ervas
estive contigo
na escarpa de Helderberg
onde deixámos
de ser estranhas
e desconhecíamos
que o mundo
tem um fim
estou sem ti
na escarpa de Helderberg
quando é que foste
com os pássaros
e me deixaste
sem idade
entre a neve?
na escarpa de Helderberg
onde nem o vento
perturba
os nossos corações
que de tanta paz enlaçados
não falam
estou contigo
na escarpa de Helderberg
onde nada do que existe
para ser visto
excede o esplendor
da tua fragilidade
e mistério
estou aqui contigo
na escarpa de Helderberg
e pode ser sempre assim
o silêncio
uma terra perdida
as tuas mãos
um pássaro
estou contigo
na escarpa de Helderberg
sobre nós
cai a primeira neve
e até a nossa sombra
implora para ficar
entre as ervas
estive contigo
na escarpa de Helderberg
onde deixámos
de ser estranhas
e desconhecíamos
que o mundo
tem um fim
estou sem ti
na escarpa de Helderberg
quando é que foste
com os pássaros
e me deixaste
sem idade
entre a neve?
Certo dia, há muito tempo, numa noite de insónia, levantei-me para ir à janela ver as luzes acesas no bairro. Não conseguia dormir e lá fora não havia ruídos até que passou um carro com os faróis acesos, mas não me mexi. Apeteceu-me beber café mas fui limpar a secretária, o que normalmente não faço, pois o caos exterior liberta-me do interior. Isto foi no inverno passado e agora estamos em junho. A fúria por não conseguir adormecer deu entretanto lugar ao pânico. Tinha medo. Noites de delírio. Na rua deserta, nada ressoava, nem risos nem cães. Decorrida aproximadamente uma hora, saí para a neve, à luz fria do luar, como quem recebe uma dádiva. Como podem estas coisas ser tão belas e não haver nada que possamos dizer? Esperei calado e radioso enquanto pequenos flocos de neve caíam. A folhagem das árvores apodrecia. Tudo acordou calmamente e retomou sentido. Depois voltei para o quarto, como se a manhã fosse ofensiva.
18 de julho de 2016
There is a particular kind of pain, elation, loneliness, and terror involved in this kind of madness. When you're high it's tremendous. The ideas and feelings are fast and frequent like shooting stars, and you follow them until you find better and brighter ones. Shyness goes, the right words and gestures are suddenly there, the power to captivate others a felt certainty. There are interests found in uninteresting people. Sensuality is pervasive and the desire to seduce and be seduced irresistible. Feelings of ease, intensity, power, well-being, financial omnipotence, and euphoria pervade one's marrow. But, somewhere this changes. The fast ideas are too fast, and there are far too many, overwhelming confusion replaces clarity. Memory goes. Humor and absorption on friend's faces are replaced by fear and concern. Everything previously moving with the grain is now against... you are irritable, angry, frightened, uncontrollable, and emerged totally in the blackest caves of the mind. You never knew those caves were there. It will never end, for madness carves its own reality.
It goes on and on, and finally there are only other's recollections of your behavior... your bizarre, frantic, aimless behaviors... for mania has at least some grace in partially obliterating memories. What then after the medications, psychiatrist, despair, depression, and overdose? All those incredible feelings to sort through. Who is being too polite to say what? Who knows what? What did I do? Why? And most hauntingly, when will it happen again? Then, too, are the bitter reminders... medicine to take, resent, forget, take, resent, and forget, but always to take. (...), explanations due at work, apologies to make, intermittent memories (what did I do?), friendships gone ordained, a ruined marriage. And always, when will it happen again? Which of my feelings are real? Which of the me's is me? The wild impulsive chaotic, energetic, and crazy one? Or the shy, withdrawn, disparate, suicidal, doomed, and tired one? Probably a bit of both, hopefully much that is neither. Virginia Woolf, in her dives and climbs, said it all, "How far do our feelings take their colour from the dive underground? I meant, what is the reality of any feeling?"
Kay Jamison, An Unquiet Mind.
It goes on and on, and finally there are only other's recollections of your behavior... your bizarre, frantic, aimless behaviors... for mania has at least some grace in partially obliterating memories. What then after the medications, psychiatrist, despair, depression, and overdose? All those incredible feelings to sort through. Who is being too polite to say what? Who knows what? What did I do? Why? And most hauntingly, when will it happen again? Then, too, are the bitter reminders... medicine to take, resent, forget, take, resent, and forget, but always to take. (...), explanations due at work, apologies to make, intermittent memories (what did I do?), friendships gone ordained, a ruined marriage. And always, when will it happen again? Which of my feelings are real? Which of the me's is me? The wild impulsive chaotic, energetic, and crazy one? Or the shy, withdrawn, disparate, suicidal, doomed, and tired one? Probably a bit of both, hopefully much that is neither. Virginia Woolf, in her dives and climbs, said it all, "How far do our feelings take their colour from the dive underground? I meant, what is the reality of any feeling?"
Kay Jamison, An Unquiet Mind.
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