8 de junho de 2016

I will sing your name, o exalted one
I will sing your name with the ten-stringed lute
Because I have been made in a hideous and strange form

I said, if only the wind were to me like it is to a dove...
So I could fly and find relief
I would hurry towards shelter from the intense wind and violent storm
Because I have seen hardship and wickedness on the ground.

From the bitterness of my own soul I speak
From the bitterness of my own soul I speak
When I was silent, my soul was decaying from all shouting
I was doing all day long

Remember that my life is wind
I have become like spilled water
and like those that have died long ago.
And upon my eyelashes are shadows of death
Upon my eyelashes are shadows of death

Leave me, leave me
For my days are a breath...
Leave me before I go to a place from which there is no return
To a dense, dark land

From the bitterness of my own soul I speak
From the bitterness of my own soul I speak
When I was silent, my soul was decaying from all shouting I was doing
all day long
Remember that my life is wind

I have become like spilled water
and like those that have died long ago.
And upon my eyelashes are shadows of death
Upon my eyelashes are shadows of death

Leave me, leave me
For my days are a breath...
Leave me before I go to a place from which there is no return

To a dense, dark land
Oh God, don't commit the soul of your creation to a wild animal. Please don't abandon me.

Remember that my life is wind
And you have condemned me to idleness

Come listen to the song of someone who is singing in the pathless desert
The song of someone who sighs and extends their hands and says
'Woe is me! For my soul, due to my wounds, has become unconscious.'

God help me, because the day is gently fading
and the shadows of evening are lengthening
And our existence,
like a cage full of birds,
is full of the groans of captivity
Like turtledoves, we beg for justice
But there is not any justice
We await the light,
and now (this moment)... is a godsend.

The Neptune Star:
Sometimes at night we see a bright star.
This star is called the Neptune star.
This star is very bright.
The Neptune star is very close to us.
The Neptune star doesn't twinkle at us. 

Forough Farrokhzad, The House is Black (1962).
sem dúvida que as florestas
ocultaram o seu vazio
onde novas corolas
abrem todos os dias.

fragrâncias, tesouros,
delícias íntimas,
nele nascem e sobem,
como nuvens — unânimes.
através de um som, recordo-me subitamente de um eu que em tempos acreditava em forças mágicas, tinha esperança no futuro, alegria, serenidade e respirava bênçãos. volto a sê-lo, sem qualquer hesitação ou dificuldade, como se rejuvenescesse umas dezenas de anos e me libertasse até de mim.

6 de junho de 2016

ao longo dos séculos,
o problema
contaminou os sonhos
dos outros.
sendo assim,
traduzir os sonhos
resultava sempre
em formas inesperadas,
circulares,
que não podiam ser superadas.
um olhar de impotência, quase cómico. haverá lugar para mim? ter um lugar, como todas as histórias, ao invés de estar apenas em decomposição, embora com muito apetite. sou uma garça entre as garças; não que seja elegante, mas porque as garças são todas iguais. o fim chega sem dizer água-vai e a rapariguita que dorme na enxerga debaixo da figueira, ainda sonha em dar voz ao que tem no coração.
para onde vai o trovão
depois de abrir um buraco no céu
e, como um anzol,
fazer mexer os cantos da boca?

5 de junho de 2016

trovejando sobre a casa
o som do avião
liberta-me do que é
e do que há-de ser
do outro lado da rua
o prato da vizinha ecoa
na minha casa
quando escrevo, acontece-me lutar contra os modos de falar do mundo, recortando laboriosamente o meu próprio modo de falar. tal tarefa acaba por me devolver uma imagem de mim mais limpa do que outrora, que sabe mais do que interroga, que está presente mais do que é ambígua. talvez por isso escrever se tenha tornado uma necessidade.