20 de abril de 2016

Estou convencida de que
faz parte integrante da vida na terra
sermos magoados
naquilo a que somos mais sensíveis,
no que nos é mais insuportável:
o essencial
é como nos saímos disso.

Rahel Varnhagen

18 de abril de 2016

apesar dos tons pastel e da luz intensa que, à exceção da base, preenche todo o quadro, fico a pensar «porque é que a igreja e as árvores têm a cor do céu?». é como se víssemos uma imagem do que outrora foi e se desfez. com toda a sua luz e aparente tranquilidade — transmitida unicamente pelas cores e em contraste (em curto-circuito) com a onda que estala no céu , é uma imagem de destruição, de morte. o que ainda vemos erguido, refletindo o seu duplo na água, é uma ruína. não estará lá, não está lá. aquilo que vemos é já pó.

William Turner, Quillebeuf, Mouth of the Seine, 1833.

16 de abril de 2016

Mrs. Dalloway is always giving parties to cover the silence.

Virginia Woolf

15 de abril de 2016

Os cinco livros que até hoje publiquei pouco significam agora para mim. O pouco significarem garante-me completa liberdade e isenção, em ordem a uma nova linguagem (…). Interessa-me, portanto, chegado que sou à convicção de me haver limitado, nos livros anteriores, a mover-me em círculo sobre uma linguagem esgotada – interessa-me, digo, muito menos executar uma gramática literária, destinada ao diálogo, do que perfazer um organismo internamente coerente e bastante. A comunicação será consequente, se for. De qualquer modo, bani a ideia do diálogo no meu estilo. Mas sinto-me ligado aos escritos antigos como alguém se pode sentir ligado a um paciente e doloroso erro.

Herberto Helder em entrevista, 1964.
saí e sentei-me ali mesmo nos degraus, onde enrolei um cigarro cuja perfeição contemplei por um momento. o futuro chegou ao cabo sem pasmo, num pequeno silêncio.

9 de abril de 2016

— sombra.

Al Berto, in Apresentação da noite.

6 de abril de 2016

O facto de haver qualquer coisa risível nisto tudo, neste conjunto de homens sentados com as calças puxadas até aos joelhos, cada um na sua própria cabine, grunhindo e gemendo e mexendo no pénis enquanto viam filmes de mulheres a fazerem sexo com cavalos ou cães, ou de homens com outros homens, era algo que nem eles próprios podiam negar, mas também não o admitiam, uma vez que o riso verdadeiro e o verdadeiro desejo são incompatíveis, e tinha sido o desejo que os conduzira até lá.

Karl Ove Knausgård, A Morte do Pai.

John Constable, Cloud study 6 September 1822

5 de abril de 2016

Margarida Magalhães

Breath (pneuma) has always been seen as a sign of life... Language is speech before it is anything. It is born of babble and shaped by imitating other sounds. It therefore must be listened to while it is being written. So the next time someone asks you that stupid question, “Who is your audience?” or “Whom do you write for?” you can answer, “The ear.” I don’t just read Henry James; I hear him... The writer must be a musician—accordingly. Look at what you’ve written, but later... at your leisure. First — listen.

William H. Gass, in The Sentence Seeks Its Form, encontrado aqui.


Agnès Varda, Uncle Yanco (1967).