26 de abril de 2020

Ao contrário dos livros, as fotografias não eram, inicialmente, catalogadas ou incluídas em registos bibliográficos, mas simplesmente arquivadas. E, por vezes, tinham de esperar mais de cem anos até serem observadas uma segunda vez. (...).
Quando as férias de Verão são registadas em vários milhares de imagens, e a vida de um bebé recém-nascido documentada fotograficamente dia após dia, tal tem pouco que ver com a criação de uma memória visual, e mais com a institucionalização social de um espaço do esquecimento. É justamente porque as imagens estão disponíveis em tão grande número que a recordação e a memória, que poderiam estruturá-las e conferir-lhes uma forma, têm um papel secundário. Porque as imagens não existem, de modo algum, para ser recordadas. O simples facto de estarem disponíveis já é suficiente. Os depósitos virtuais são sobretudo arquivos visuais do esquecimento.

Bernd Stiegler, Fotografia e esquecimento.