Lembro-me a esse propósito, da ironia penetrante com que Brecht falava de um governo que enfrentava a eventualidade de ter de dissolver o seu povo para eleger outro. Foi justamente com esse fim em vista que, a 17 de Junho de 1953, o meu amigo Fritz Klein, dedicado comunista com vinte e nove anos de idade, apoiou a intervenção soviética que se seguiu à grande revolta operária, considerando o regime estabelecido socialmente mais justo e, do ponto de vista político, mais efectivamente antifascista que a República Federal. Do mesmo modo, em 1961, apoiaria a construção do Muro de Berlim. «A minha opinião nesse momento», escreveria ele, «era que devíamos aceitá-lo como um mal menor, quando considerávamos a outra alternativa possível: abandonar a experiência, que continuava a ser legítima, da instauração de uma nova sociedade».
Eric Hobsbawm, Tempos Interessantes.