Escrever para recordar? Não para me recordar, mas para combater a dilaceração do esquecimento.
Não quero falar disto com medo de fazer literatura — ou sem a ter a certeza de que não o será — embora de facto a literatura tenha origem nestas verdades.
Habito a minha tristeza e isso faz-me feliz. Tudo o que me impede de habitar a minha tristeza é insuportável para mim.
Habito a minha tristeza e isso faz-me feliz. Tudo o que me impede de habitar a minha tristeza é insuportável para mim.
Uma amiga aconselhou-me o livro pouco tempo depois da morte da minha mãe. Despreparada, peguei nele uns dias depois, com a urgência de encontrar um refúgio longe da cacofonia do mundo e próximo da minha profunda tristeza. Encontrei nele um ribeiro de clarividência e, ao mesmo tempo, um exemplo da grande tenacidade da escrita. Há um enorme cuidado em fazer o relato seja desta morte, seja desta vida que acabou; qualquer abordagem ao sofrimento trazido por ela é feita com delicadeza e com uma exigência de concisão. Não é que, por ser escrito por um cuidador, o discurso esteja impregnado de um amor sem culpa, pelo contrário. Aquele que tudo deu, pensa sempre que podia ter dado mais.
para a minha irmã
para a minha irmã