9 de julho de 2019

No dia a seguir à morte da sua mãe, Hemiette Binger, que faleceu aos 84 anos, a 25 de outubro de 1977, Roland Barthes começa um Diário de Luto. Escrito entre outubro de 1977 e setembro de 1979, isto é, em dois dos seus últimos três anos de vida, o Diário de Luto, de Roland Barthes foi escrito a tinta e a lápis em fichas que o próprio preparava a partir de folhas de papel A4 cortadas em quatro e das quais mantinha sempre uma reserva sobre a mesa. Feito de fragmentos, este diário é constituído por notas breves, sem conexão, e, sobretudo, por uma obsessão sobre o luto entrecortada por outra, a da escrita e da linguagem. Nele, Barthes escreve sobre o afeto pela mãe e sobre a dor da perda, mas também sobre o próprio ato de escrever um diário.

Escrever para recordar? Não para me recordar, mas para combater a dilaceração do esquecimento.

Não quero falar disto com medo de fazer literatura — ou sem a ter a certeza de que não o será — embora de facto a literatura tenha origem nestas verdades.

Habito a minha tristeza e isso faz-me feliz. Tudo o que me impede de habitar a minha tristeza é insuportável para mim.

Uma amiga aconselhou-me o livro pouco tempo depois da morte da minha mãe. Despreparada, peguei nele uns dias depois, com a urgência de encontrar um refúgio longe da cacofonia do mundo e próximo da minha profunda tristeza. Encontrei nele um ribeiro de clarividência e, ao mesmo tempo, um exemplo da grande tenacidade da escrita. Há um enorme cuidado em fazer o relato seja desta morte, seja desta vida que acabou; qualquer abordagem ao sofrimento trazido por ela é feita com delicadeza e com uma exigência de concisão. Não é que, por ser escrito por um cuidador, o discurso esteja impregnado de um amor sem culpa, pelo contrário. Aquele que tudo deu, pensa sempre que podia ter dado mais.

para a minha irmã