11 de junho de 2019
teria saudades de fazer aquele caminho, embalada pela luz do estio, vagarosa e soberba, que todos os lagartos procuravam. a paz era tanta que a cada passo se afundava mais profundamente, contudo, sem peso, como se a terra a recebesse pela primeira vez e, assim, pudesse participar do seu âmago, intacto e inexplorado. procurava agora a água, mas, sem a encontrar, esperou. o céu sem nuvens era ameaçador, como uma doença. sem esperar nada, esperou ainda até a noite cair completamente, altura em que as pessoas começaram a aparecer, passando por ela sem notarem a sua presença compacta e inabalável. de uma alegria que encontra o deserto, diluiu-se num medo que sabe do silêncio da morte, sombra feminina sem expressão, sem eloquência, sem força. levantou-se do nada sem desejar mover-se e procurou a ousada metáfora para o jogo do tempo, que só no fim executava os seus movimentos e se cumpria. o sono alcançou-a e desistiu da vigília. o caminho perfeito foi esquecido para sempre, a água inundou-lhe os sonhos e o medo elevou-se à intrépida insensatez do amor.