10 de janeiro de 2018

trabalho em frente a uma janela através da qual, do outro lado da rua, vejo a fachada de um prédio com as suas altas janelas cujas portadas estão fechadas ou meio abertas. essas portadas parecem estáticas e nunca aconteceu ver ninguém do outro lado. os meus dias passam-se diante destas janelas, enquanto trabalho e penso que devia estar a escrever. deve haver alguém que habite estas casas, alguém que nunca vejo e me vê. por vezes, à hora de almoço, quando estou sozinha no escritório, deito a cabeça sobre a secretária para descansar um pouco. são apenas alguns minutos, mas renovadores. agora são três e meia e hoje não pude descansar. conto os minutos até à hora da saída, como todos os dias, quer esteja muito ou pouco ocupada. embora a ele me veja forçada, se há coisa em que descreio com todas as minhas forças é no trabalho. quem assomar do outro lado destas janelas não verá mais do que o meu semblante desiludido, frustrado e impaciente.