17 de agosto de 2017
sinto-me próxima das ervas que rompem a calçada, o alcatrão e o cimento, mais do que das pessoas e dos animais com quem me cruzo na rua, à exceção talvez de algum gato fugitivo. são também essas ervas que procuro nas fotografias das cidades, como se sem elas a cidade não passasse de uma ilusão, de um conto de fadas que me é sugerido com eloquência, mas deixa um rasto de incredulidade. por toda a parte as árvores morrem, mas estas ervas continuam a nascer nas paredes dos prédios, na margem dos passeios e à porta das casas, como se não passasse ninguém, como se ninguém as pisasse. crescem timidamente e, porém, portam nelas toda a violência da natureza e a inutilidade de a domar. o que seria de nós sem elas, insolucionáveis e incivilizadas, prontas a crescer sem medida por toda a parte? sou como essas ervas, daninhas ou não, irrompendo sem prudência, por vezes inconveniente, distraída da minha vulnerabilidade.