31 de agosto de 2017

na exposição que está atualmente no Museu de Arte Antiga sobre o tema do culto mariano, estão representadas obras que vão desde a antiguidade (século III) à contemporaneidade. nelas, desde o Renascimento, ao Maneirismo e passando pelo Barroco, a figura da Virgem surge normalmente acompanhada de anjos, santos, apóstolos, mártires e naturalmente, de Cristo, menino, morto ou ressuscitado. poucas são aquelas que apresentam a Sagrada Família, ou seja, que incluem José, e, mesmo naquelas onde a sua figura surge, é de forma lateral, obscura, enigmática. sem o contestar, toda a iconografia religiosa confirma o silêncio do pai adotivo nas Escrituras. ausente ou silencioso até à sua morte, mesmo quando recebe em sonho o aviso do anjo para partir para o Egito, a sua obediência e contemplação são absolutas. até Deus fala nas Escrituras através de símbolos, como é o caso da sarça ardente. José preconiza uma disciplina de silêncio que excede a representação, aquela que serve a atenção pura e a meditação, mas também a sua dimensão soturna e escandalosa. quem se cala, quem se ausenta? o pai, «a medida de todas as coisas», diria Kafka.