28 de agosto de 2017
é sempre difícil para uma mulher começar a falar entre homens. a voz tem de encontrar forma de se impor e optar, pelo menos a princípio, entre um registo que não é natural e os momentos de silêncio, raros e curtos. para que o seu discurso seja tido em conta, não basta contudo fazer-se ouvir. é necessário legitimá-lo através de sobrepostos discursos, com os quais por vezes se recorre à lembrança de que fazerem-se ouvir não deveria implica metamorfosear a palavra no masculino. para audiências mais avisadas, isso costuma bastar. ainda assim, contudo, parece-me sempre que é o silêncio que vence entre a comunidade das mulheres, cujos olhares e gestos, quase sempre invisíveis para os homens, falam mais do que as próprias vozes.