11 de maio de 2017

e ali mesmo, diante do olhar de todos, ela levantou-se para ir à casa de banho com o tampão na mão. não o escondeu no bolso, não o levou numa carteira, não procurou fugir aos olhares: no final da reunião tirou-o da mala descontraidamente, continuando a falar. o gesto foi para mim de tal modo inaugurador, que não consegui disfarçar um ligeiro sorriso nem tirar os olhos dela enquanto atravessava a sala. a chave do feminismo estava ali. quem de entre nós mostra o penso ou o tampão na mão quando o vai mudar? quis fazê-lo imediatamente. contudo, havia tanto que ter em conta. mostrar o objeto é mostrar que se sangra, é mostrar o próprio sangue. fazê-lo em família, no trabalho, com os amigos, no café, no comboio, num jantar, em que situações estaria pronta a fazê-lo e, sobretudo, em que situações me proibiria de o fazer? testei-me. eu, que sempre tinha escondido esses utensílios dos olhares, passei a fazer do momento da troca um acontecimento carregado de intencionalidade e revestido de declaração política. ainda hoje é.