3 de janeiro de 2017

de repente, no regresso a casa, um ruído de fundo preenche o ouvido e todavia diz-se esta uma rua silenciosa. algumas vozes ao fundo da rua no café, o meu gato que brinca com uma peça de plástico, um avião e agora o som das teclas enquanto escrevo. as paisagens sonoras, quanto mais silenciosas, mais perfeitas, diria, mas nem sempre foi assim. houve um tempo em que o silêncio era sinónimo de opressão e, penso agora, quem sabe se não me conformei simplesmente à angústia que dele emana, transmutando-a numa contemplação aparentemente inócua? porque haveria perfeição na imobilidade e na quietude e não precisamente na revolta e na afeção? aquilo que o corpo prepara em segredo muda a vida.