Eu sempre gostei de ir aos cemitérios, isto tinha eu da minha avó materna, que era uma apaixonada visitante de cemitérios e sobretudo de capelas mortuárias e câmaras-ardentes, e ainda quando eu era muito pequeno ela me levava muitas vezes aos cemitérios, para me mostrar os mortos, quaisquer que eles fossem, sem ter com eles nenhum parentesco, mas sempre mortos que estavam amortalhados nos cemitérios, ela sempre se sentira fascinada pelos mortos, pelos mortos colocados no caixão, e procurou sempre transmitir-me essa sua fascinação enquanto paixão, mas ela, ao levantar-me para eu ver os mortos no caixão, só o que conseguira fora sempre encher-me de medo, eu ainda hoje vejo muitas vezes como ela me levanta para eu ver os mortos no caixão e me segura assim todo o tempo que ela consegue aguentar, repetindo o seu estás a ver, estás a ver, estás a ver e assim me segurando até eu começar a chorar, depois punha-me no chão e ficava ela própria ainda bastante tempo a olhar o morto, até sairmos por fim da capela mortuária.
Thomas Bernhard, A Causa in Autobiografia.