7 de agosto de 2015

A impossibilidade de um relacionamento tranquilo teve ainda uma outra consequência muito natural, de facto: desaprendi de falar. De resto também não teria sido grande orador, mas teria dominado a linguagem humana normal e fluente. Tu, porém, proibiste-me a palavra desde cedo, a tua ameaça «Nem te atrevas a ripostar!» e a mão levantada ainda hoje me acompanham desde essa altura. Diante de ti – desde que se trate das tuas coisas, és um orador exímio – fiquei com um modo de falar hesitante, gaguejante, mas mesmo isso era demais para ti e acabei por me calar, primeiro talvez por obstinação, depois porque diante de ti não conseguia nem pensar nem falar. E dado que eras tu o meu verdadeiro educador, isso continuou a fazer-se sentir por toda a minha vida.

Franz Kafka, Carta ao Pai.