10 de abril de 2015

vivo num ciclo interminável de recomeços, lutos consecutivos, separada dos outros por uma rede inextricável de mal-entendidos. é engraçada a vida que me coube viver. antes procurava saídas. agora que posso admirar perfeitamente a rede (cuja espessura, grandeza e malha apertada me deixam espantada e incrédula por deixar passar o ar e portanto, por poder continuar a respirar), estou cada vez mais curiosa para perceber onde me levará a capacidade de a viver. do que posso ver acima de mim, pressuponho que seja uma rede cilíndrica mas, para ser completamente honesta, é uma abóbada, já que abaixo de mim nada vejo e nada toco, o que torna perfeitamente plausível a pergunta sobre a existência, que não é senão uma pergunta sobre limites. talvez um dia escreva qualquer coisa sobre isso. ou não. talvez, ao contrário, tudo o que procede do silêncio a ele regresse, e o percurso sirva apenas para adquirir uma forma mais plena, se é que isto seja coisa (não é) que se possa dizer sobre o silêncio. na verdade, sei que também esta malha é um engano. embora ainda não o possa ver, e porque ainda me lembro das suas formas anteriores, sei que um dia será porventura tão densa que acabará por desaparecer perante os meus olhos, transformando-se em pura escuridão intransponível, não sei se negra se branca. o que serei eu quando estiver a admirar isso não consigo imaginar. estou só curiosa por saber se ainda serei capaz de lhe dar um nome.