16 de abril de 2015
numa fotografia onde, com menos de um ano, estou ao colo de um tio, vejo o meu olhar dirigido ao meu pai, que se encontra atrás da máquina fotográfica. não tenho memórias desse colo, desse dia, desse ano e creio que não gostaria de ter. mas sei que é ao meu pai que se dirige aquele olhar. o que leio nesse olhar é indistinguível entre o medo e a intuição, indistinguível entre a durabilidade e a velocidade. primeiro era o meu corpo, vulnerável e aberto, e depois o desconhecido, que nunca mais acabava de começar e terminar. porquê aquilo, que seguras nas mãos, e tão negro, entre ti e mim? porque ocultas o teu rosto? porquê esta distância, entre ti e mim? porquê aquilo em vez de mim? o meu crescimento não foi ainda capaz de se sobrepor a ti e à tua extinção. a tua extinção perdura, foi feita para perdurar, não apenas em mim mas na vibração da noite, mole, volumosa. não quero que aconteça nada, disse-te. enquanto durar a noite, só quero estar contigo. e que ela seja indissolúvel. disse-te.