17 de abril de 2015

ainda mal tinha acordado, saltou da cama, vestiu-se e precipitou-se escadas abaixo até à rua. enquanto dava os primeiros passos, reparava em como, no meio do atraso que o fez correr, surgia uma alegria forte, talvez por não ter pensado muito ou por estar a fazer uma coisa nova. a vida não devia ser sempre isto? a cada momento, boa ou má, uma coisa nova. um precipitar-se escadas abaixo para a rua. dois indianos passam de mão dada do seu lado direito, um limão pendurado na venda de morangos diante do portão da feira brilha, uma rapariga leva o garfo à boca dentro de um restaurante e, com a boca aberta, olha através do vidro, cruzando o seu olhar com o dele. está atrasado. uma pequena gota de suor, quase imperceptível, escorrega desde a têmpera pescoço abaixo, logo sendo tocada pelo vento. talvez o sedentarismo seja um erro contra a natureza. duas pretas cantam enquanto lavam a entrada de um prédio e um homem que passa entre elas com o jornal debaixo do braço não as ouve. não consegue discernir sobre se está intimamente em ordem ou desordenado, ambos os estados lhe parecendo igualmente justos. o sol alto caía. uma náusea breve e cortante sobressaltou-o e tornou o passo mais vagaroso, não podia dizer se muito se pouco. a crueldade da vida era afável.