21 de março de 2015

tenho saudades de ruas onde ecoa apenas o som dos nossos próprios passos. é talvez — ou sem dúvida —, ter saudades de um certo tipo de solidão. a solidão do viajante, ou melhor, do wanderer, daquele cuja vida não se dissocia da deriva e do seu profundo silêncio, que estabelece a presença (do corpo no tempo) e, por isso também, da treva onde toda a intimidade com o mundo se aloja. em suma, tenho saudades de certa solidão infantil, onde todas as fantasias se gozam e que, ao invés de experimentar a fugacidade do tempo, apenas tem nele lugar, entre todas as coisas.
Und ich wand're sonder Massen. [E eu caminho sem medida] (Schubert, Die Winterreise).