Não seria possível sugerir de modo mais claro que as cartas jamais
entregues são a cifra de eventos felizes que poderiam ter acontecido,
mas não se realizaram. O que se realizou é, ao invés, a possibilidade
contrária. A carta, o ato de escritura, assinala, na tabuleta do escriba
celeste, a passagem da potência ao ato, o verificar-se de um
contingente. Mas, justo por isso, toda carta assinala também o não
acontecer de algo, é também, nesse sentido, sempre carta morta.
Giorgio Agamben