8 de novembro de 2014

Não seria possível sugerir de modo mais claro que as cartas jamais entregues são a cifra de eventos felizes que poderiam ter acontecido, mas não se realizaram. O que se realizou é, ao invés, a possibilidade contrária. A carta, o ato de escritura, assinala, na tabuleta do escriba celeste, a passagem da potência ao ato, o verificar-se de um contingente. Mas, justo por isso, toda carta assinala também o não acontecer de algo, é também, nesse sentido, sempre carta morta.

Giorgio Agamben