11 de setembro de 2014
Chove mas a roupa sobre o corpo é ligeira, a janela está aberta em par para um céu branco. O outono chega com o seu esplendor taciturno e não há em mim outra vontade para além da de lhe obedecer, como se obedece a um segredo. Quem poderia ter antes sabido que a felicidade é o contrário do desespero e que toda a vida foi desespero? Sigo pela escuridão desprezando o mundo e a minha alegria nasce de me abandonar a mim própria. Sou uma resposta a um chamamento mais ténue que estas nuvens, que estão no céu para dar a impressão de nada lá estar. Sou um ouvido que escuta um som e se deixa conduzir por ele e todavia tudo é silêncio e quietude. Não tenho deuses. Não estou no espaço nem no tempo, desconheço a dúvida e a interjeição, nenhum sonhar me atormenta. Apenas entendo o que é ignoto e nisto reconheço grande fragilidade, pois enquanto aprendo a respirar delicadamente descubro que a delicadeza tem poder. Para diante nada, tudo branco, nenhum contorno. Não há escolta neste som, em tudo improvável. Prossigo independente, certamente direção a nenhures, mas quem esculpiu a minha embarcação atribuiu-lhe a vontade indivisível de ceder a apenas um vento.