6 de julho de 2014

Percebo perfeitamente a Eva que, seduzida pela serpente, retira o paraíso a Adão, perdendo-o para si mesma. Eva, de quem todos herdámos a culpa, é a mulher que conhece o homem, a sua insensatez e o seu laxismo.
A história parece incompleta. O Génesis quer fazer-nos acreditar numa ausência de ligações primordiais entre quer a serpente e o homem quer entre Eva e a serpente. E isso, a meu ver, torna a história ilegível, incompreensível.
Personagens: o primeiro homem, a quem os animais não fizeram companhia que bastasse para esquecer a solidão. A primeira mulher, perfeição da obra fora de qualquer espontaneidade. A serpente, presença do mal a ocupar o centro do paraíso, estranha presença de um perigo que nem sequer é indesejado para poder ser combatido. E a árvore do conhecimento do bem e do mal, cujos frutos eram interditos mas pendiam, amadurecidos.
Quando fica a conhecer o bem e o mal, Eva vê também a sua perfeição, única e posterior. Mas a Eva seduzida já conhece a sua solidão. Ora, isto passa-se após a oferta do fruto: após ter falado. A primeira vez que Eva fala coincide com a queda original.