Adormeço no sofá embalada pelo som de um filme onde praticamente ninguém fala, mas fico retida pelas vozes de uma festa no andar de cima num lugar onde contudo o corpo mergulha e desaparece pesadamente. Perco-o na obscuridade sem me separar dele e cedo ao prazer das imagens de coisas que me angustiam na vigília. Ou não sei para onde foi a angústia e porque sinto prazer quando as imagens que aguardo receber com sobressalto surgem agora como lençóis de água onde o meu rosto se enterra em deleite e vão sucedendo umas às outras, numa repetição sem monotonia, porque quando é a mesma que surge, é já como outra que surge, e dou por mim a pensar que a monotonia e o sofrimento não estão forçosamente ligados.
Acordo trazendo no corpo a pressão daquilo que caiu. Não me consigo levantar e um formigueiro quente converge intensamente, como se sonhasse ainda. Cada membro regressa de longe aos poucos e pergunta, sem interesse pela resposta, se ainda há tempo até que chegue a morte.