o amor é um tigre dócil
cuja natureza insubmissa
pressente com rigor o mundo
12 de julho de 2021
10 de julho de 2021
15 de abril de 2021
8 de março de 2021
Eu quero foder foder foder
Eu quero foder foder / achadamente / se esta revolução / não me deixa foder até morrer / é porque não é revolução nenhuma / a revolução não se faz nas praças nem nos palácios / (essa é a revolução dos fariseus) / a revolução faz-se na casa de banho de casa / da escola / do trabalho / a revolução entre as pessoas deve ser uma troca / hoje é uma relação de poder / (mesmo no poder) / a ceifeira ceifa contente / ceifa nos tempos livres / (semana de 24×7 horas já!) / a gestora avalia a empresa pela casa de banho / e canta contente porque há alegria no trabalho / o choro da bébé não impede a mãe de se vir / a galinha brinca com a raposa / eu tenho o direito de estar triste.
Adília Lopes, Eu quero foder in Florbela Espanca Espanca.
22 de fevereiro de 2021
1 de fevereiro de 2021
hoje, abri uma janela de chat com um amigo e disse-lhe: "tenho vontade de viver". mas que difícil organizar a vontade de fazer tantas coisas e ter de trabalhar para outrem. partir, partir, sempre partir para ver mais mundo, estar mais com os outros, rir mais alto, aprender mais um passo de dança e gastá-lo até cair. não sabemos nada da vida e de nós próprios também hesito em afirmar que possamos saber alguma coisa. vamos de um lado ao outro da alegria e damos com a tristeza, de um lado ao outro da tristeza e damos com a alegria. temos íntimos exóticos devorados pelo silêncio da incerteza e da certeza e avançamos, mas não vamos a lado nenhum. estar aqui é absoluto, temos uma voz, um corpo, e as coisas respondem-nos cheias de bondade, oferecem-nos a qualidade do perigo, do inesperado, onde, como diz o poeta, me tornei hábil a cair verticalmente.
19 de janeiro de 2021
6 de janeiro de 2021
8 de outubro de 2020
O Poder de Circe
Nunca transformei ninguém em porco.
Algumas pessoas são porcos; faço-os
parecerem-se a porcos.
Estou farta do vosso mundo
que permite que o exterior disfarce o interior.
Os teus homens não eram maus;
uma vida indisciplinada
fez-lhes isso. Como porcos,
sob o meu cuidado
e das minhas ajudantes,
tornaram-se mais dóceis.
Depois reverti o encanto,
mostrando-te a minha boa vontade
e o meu poder. Eu vi
que poderíamos ser aqui felizes,
como o são os homens e as mulheres
de exigências simples. Ao mesmo tempo,
previ a tua partida,
os teus homens, com a minha ajuda, sujeitando
o mar ruidoso e sobressaltado. Pensas
que algumas lágrimas me perturbam? Meu amigo,
toda a feiticeira tem
um coração pragmático; ninguém
vê o essencial que não possa
enfrentar os limites. Se apenas te quisesse ter
podia ter-te aprisionado.
Louise Glück
1 de outubro de 2020
partout son empreinte. Elle se mesure avec la matière qu’elle métamorphose, avec la forme qu’elle transfigure. Éducatrice de l’homme, elle le multiplie dans l’espace et dans le temps."
Henri Focillon, La vie des formes.
17 de setembro de 2020
20 de agosto de 2020
There is, Kafka says, ‘plenty of hope, an infinite amount of hope–but not for us.’ There is hope always only for another– and for ‘us’ only when there is, so to speak, no ‘us,’ when ‘we’ stop being ‘ourselves’ and begin to be another. ‘Plenty of hope,’ therefore, ‘but not for us.’
Werner Hamacher, The Gesture in the Name.
30 de junho de 2020
26 de junho de 2020
25 de junho de 2020
A partir daqui isto não tem nada a ver contigo.
Sento-me no degrau de uma porta
À espera de alguém,
Mas não espero nada.
Tenho uma reunião daqui a pouco,
Mas não irei.
A minha irmã espera um telefonema meu,
Mas somos estranhas.
A solidão que se apresenta
É imprecisa, extraordinária,
Distribui-se pelo corpo como um formigueiro
E sela o silêncio com o silêncio.
A partir daqui deixas de ter nome
E tudo o que conheço de ti passa a ser incriado,
perfeito e sólido,
sem fim.