22 de fevereiro de 2021

Quando conhecemos uma pessoa, não devíamos perguntar-lhe o nome. A aproximação seria feita devagar, como se caminhássemos sobre as águas: vigiando o fundo, mas deslizando à superfície. Teríamos tempo para estar desatentos, sem nenhuma pergunta. Se a pessoa voltasse, talvez tivéssemos vontade de conversar mais com ela. Uma palavra após a outra, numa ordem imprevista, chegaria até nós carregada pela melodia de uma voz estrangeira. Pensaríamos que não havia qualquer razão para limitar aquele encontro e como rapidamente poderia transbordar. Porém, ainda, nenhuma pergunta. Cândidas e lentas, como animais a sair da sombra em direção ao primeiro sol, as perguntas viriam apenas depois. Talvez nos perguntássemos como tinha sido possível não nos cruzarmos antes e dificilmente compreenderíamos. Talvez hesitássemos e procurássemos fugir. Pensaríamos como conhecer uma pessoa é feito numa extensão sem limites, que nunca sabemos onde vai terminar. O momento em que se pergunta pelo nome devia ser solene, cheio de cuidado, possuir uma certa ousadia. Imagino que as pessoas se olhassem sempre nos olhos ao fazê-lo. No instante após os conhecermos, logo esquecido, estremeceríamos. Teríamos medo. Agora caminharíamos familiarmente entre os tigres da manhã, atentos e em repouso. E um dia, quando finalmente nos separássemos, os lugares que esse nome houvesse tornado férteis haveriam de continuar a falar connosco.