3 de junho de 2016
Long years ago indeed, as now
There sang the nightingale;
The sound was truly sweet;
Then, we were together.
I sing and cannot weep,
And thus, alone, I spin
The bright, clean threads
As long as the moon shines.
When we were together,
Then sang the nightingale;
Now her sound reminds me
That you are gone from me.
However often the moon shines,
I think on you alone;
My heart is bright and clean;
God grant we be united!
Since you have gone from me,
The nightingale sings constantly;
Her sound makes me think
How we were together.
God grant we be united
Where, so alone, I spin;
The moon shines bright and clean;
I sing, and would weep.
The sound was truly sweet;
Then, we were together.
I sing and cannot weep,
And thus, alone, I spin
The bright, clean threads
As long as the moon shines.
When we were together,
Then sang the nightingale;
Now her sound reminds me
That you are gone from me.
However often the moon shines,
I think on you alone;
My heart is bright and clean;
God grant we be united!
Since you have gone from me,
The nightingale sings constantly;
Her sound makes me think
How we were together.
God grant we be united
Where, so alone, I spin;
The moon shines bright and clean;
I sing, and would weep.
Avanço debaixo do sol tórrido avenida abaixo. Não tinha nome esta rua e continuo sem saber o nome que lhe deram. De um lado, o hipermercado e, mais à frente, do mesmo lado, as casas novas e a escola onde andei. Do outro lado, o jardim de infância e, mais à frente, do mesmo lado, cafés e casas novas. Tudo isto foi construído após a minha partida. Se comparar os dois tempos, antes e após, passado e contemporâneo, antigo e novo, tudo está diferente. Onde agora existem lojas, prédios, escolas, um hospital e muitos carros, não havia nada senão oliveiras e erva. A avenida, feita de pó, não tinha sombras e custava atravessar, no verão por causa do sol em brasa, no inverno por causa da lama. Volto a atravessá-la com o mesmo sentimento de outrora. Esta terra, com as suas oliveiras e a serra a dominar a paisagem atrás das casas, ter-me-ia afundado na loucura. Os 18 anos que aqui vivi estiveram imersos num claro «tenho de sair daqui» e, ainda hoje, corto cuidadosamente as amarras que me ligam a este lugar. Quando venho, saio pouco de casa, para evitar o contacto com as pessoas. O lodo. Nada era possível e nada teria sido possível. Um tremendo sufoco, angústia, fechamento e solidão impregnavam os meus dias. Isso e um estranho sentimento de nojo perante os meus conterrâneos, apesar do qual, na maioria das vezes, evitava chocar sensibilidades. Era daí que provinha o mais terrível esforço, de ter de me esconder. Levei anos a
subtrair-me ao silêncio conspirativo que me devorava e a descobrir que
nem tudo é solidão e adversidade. Farejei com desespero esses bandos, procurando um
lugar neles mas nunca compreendi as pessoas cuja existência não ressoa como um equívoco. Assim que surgiu a oportunidade, corri para o mais longe possível. Que me esquecessem, era o meu desejo, habitando casas que sempre me foram estranhas. Daí que, aprendi cedo, o amor é uma força cega que não traz necessariamente bem estar e conforto. Há amores cuja intensidade nos isola, que funcionam como um escudo entre nós e o mundo, perigosa e tragicamente, entre nós e nós próprios. Mas até no chão da batalha a vida se intromete, incólume.
2 de junho de 2016
Isto é... Bom, o que pode existir além disso? Ter uma pequena infância comum, uma infância comum cheia de paixão. Nada. Nada, absolutamente nada pode existir para além disso.
Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele. Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo.
Marguerite Duras
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Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele. Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo.
Marguerite Duras
1 de junho de 2016
31 de maio de 2016
30 de maio de 2016
Eu, naquele inverno, estava tomado de furores abstratos. Não direi
quais, não é isso que me proponho a contar. Mas é preciso dizer que eram
abstratos, nada heróicos, nem vivos; de qualquer maneira, furores pelo
gênero humano perdido. Vinha assim há muito tempo, e andava cabisbaixo.
Via manchetes nos jornais sensacionalistas e abaixava a cabeça; estava
com os amigos, uma hora, duas horas, e ficava com eles sem abrir a boca;
abaixava a cabeça; e tinha uma moça ou uma mulher que
me esperava, mas nem com ela eu trocava uma palavra, mesmo com ela eu
abaixava a cabeça. Chovia o tempo todo, passavam-se os dias, os meses, e
eu tinha os sapatos furados, a água me entrando nos sapatos, e não era
mais nada que isso: chuva, carnificinas nas manchetes dos jornais, e
água nos meus sapatos furados, amigos mudos, a vida em mim como um sonho
surdo, e não-esperança, calmaria.
Isso era terrível: a calmaria na não-esperança. Dar o gênero humano como perdido e não ter vontade de fazer coisa alguma quanto a isso, nem vontade de me perder, por exemplo, com ele. Eu estava perturbado por furores abstratos, não no sangue, e ficava quieto, sem vontade de nada.
Elio Vittorini
Isso era terrível: a calmaria na não-esperança. Dar o gênero humano como perdido e não ter vontade de fazer coisa alguma quanto a isso, nem vontade de me perder, por exemplo, com ele. Eu estava perturbado por furores abstratos, não no sangue, e ficava quieto, sem vontade de nada.
Elio Vittorini
29 de maio de 2016
26 de maio de 2016
era um corpo estrangeiro
que incomodava.
eu deveria dizer
«não lhe toquem, deixem-no»
mas todos o tinham deixado.
qualquer coisa o impedia
de perdurar como uma bela memória
da infância
pois era cómico
e implorava viver.
usava palavras
cuja origem garantia
a beleza, a graça e a elegância
como as de uma mãe
no quarto da criança.
mas o som chegava
sempre um pouco mais tarde
como um objeto do outro lado
de um longo fio
atado ao dedo.
as mãos — há que dizê-lo —
as mãos mexiam-se sem propósito
e sem impaciência,
ficando presas nas palavras
como numa teia.
e então, o que poderiam fazer?
a foice sibila
soa um tinir de sinos
alguém canta
labaredas crepitam
por isso o corpo gritou
num tom cavernoso
imerso na sombra
e ergueu-se
muito simplesmente.
que incomodava.
eu deveria dizer
«não lhe toquem, deixem-no»
mas todos o tinham deixado.
qualquer coisa o impedia
de perdurar como uma bela memória
da infância
pois era cómico
e implorava viver.
usava palavras
cuja origem garantia
a beleza, a graça e a elegância
como as de uma mãe
no quarto da criança.
mas o som chegava
sempre um pouco mais tarde
como um objeto do outro lado
de um longo fio
atado ao dedo.
as mãos — há que dizê-lo —
as mãos mexiam-se sem propósito
e sem impaciência,
ficando presas nas palavras
como numa teia.
e então, o que poderiam fazer?
a foice sibila
soa um tinir de sinos
alguém canta
labaredas crepitam
por isso o corpo gritou
num tom cavernoso
imerso na sombra
e ergueu-se
muito simplesmente.
25 de maio de 2016
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