era um corpo estrangeiro
que incomodava.
eu deveria dizer
«não lhe toquem, deixem-no»
mas todos o tinham deixado.
qualquer coisa o impedia
de perdurar como uma bela memória
da infância
pois era cómico
e implorava viver.
usava palavras
cuja origem garantia
a beleza, a graça e a elegância
como as de uma mãe
no quarto da criança.
mas o som chegava
sempre um pouco mais tarde
como um objeto do outro lado
de um longo fio
atado ao dedo.
as mãos — há que dizê-lo —
as mãos mexiam-se sem propósito
e sem impaciência,
ficando presas nas palavras
como numa teia.
e então, o que poderiam fazer?
a foice sibila
soa um tinir de sinos
alguém canta
labaredas crepitam
por isso o corpo gritou
num tom cavernoso
imerso na sombra
e ergueu-se
muito simplesmente.