14 de julho de 2015
13 de julho de 2015
8 de julho de 2015
7 de julho de 2015
Aminatou está grávida de nove meses. Deseja um filho forte e saudável mas a timidez impede-a de fazer perguntas aos médicos. A sua sogra Adja, que vive com ela e com o marido, Bintou, decidiu que durante os três primeiros dias após o parto Aminatou dará leite de cabra ao bebé, por considerar que o primeiro leite materno é impuro. Adja pensa que a origem do leite materno está nas relações sexuais mantidas antes da conceção. Persistentemente, desde que foi escolhida para ajudar ao parto no domicílio, Mariam procura argumentos para explicar a Adja que amamentar é um ato natural e constitui a melhor forma de alimentar e proteger o bebé, que o leite materno se adapta às necessidades da criança e contém tudo o que precisa. Mas a maternidade é uma condição férrea e Adja encontra no seu filho, um homem alto e robusto, todos os argumentos para prescindir de qualquer justificação, ignorar os conselhos e impor o preceito à nora.
No dia em que Kiluanji nasce, Bintou coloca o recém-nascido sobre uma napa, entre as pernas da mãe. Mariam corta o cordão. Cega de cansaço e de dores, ignorando a decisão de Adja, Aminatou oferece o peito ao filho mas o recém-nascido não consegue mamar. O leite sai, é um líquido espesso e amarelo, primeiro apenas umas gotas, depois um fio que escorre sobre a pele, mas Kiluanji não bebe. Bintou, que vê de soslaio a mulher desobedecer à mãe, mantém-se de costas para ela e, fingindo não ver, sai pouco depois do quarto, levando a mãe consigo para anunciar o sucesso do nascimento à comunidade. Uma pequena mancha de humidade depositou-se no chão junto à perna de Aminatou, que por momentos desvia a atenção do seu bebé. Repara que, com o calor, o restolhar das folhas das árvores se tornou raro. A terra está seca, morbidamente seca. Não há cheiros, o ar possui a qualidade do isolamento. Extenuante, até a noite tem luz. É o tempo do encontro dos homens com si mesmos e, como todo o encontro com si mesmo é pejado de pudor e desonra, Bintou evitou olhar para ela. Mas disso, por não pertencer ao intelecto, Aminatou nunca falará. Aminatou olha para Kiluanji cujas pálpebras se abrem e fecham delicadamente e assiste à revelação daquilo que o faz ser quem é, aquilo que nele é inesquecível e que todos verão ainda no dia em que morrer. Subitamente, o queixo toca na mama e o lábio inferior volta-se para o exterior, deixando a aérola mais visível acima do que abaixo da boca. Aminatou separa-se finalmente do mundo e apazigua-se. Nunca regressará.
No dia em que Kiluanji nasce, Bintou coloca o recém-nascido sobre uma napa, entre as pernas da mãe. Mariam corta o cordão. Cega de cansaço e de dores, ignorando a decisão de Adja, Aminatou oferece o peito ao filho mas o recém-nascido não consegue mamar. O leite sai, é um líquido espesso e amarelo, primeiro apenas umas gotas, depois um fio que escorre sobre a pele, mas Kiluanji não bebe. Bintou, que vê de soslaio a mulher desobedecer à mãe, mantém-se de costas para ela e, fingindo não ver, sai pouco depois do quarto, levando a mãe consigo para anunciar o sucesso do nascimento à comunidade. Uma pequena mancha de humidade depositou-se no chão junto à perna de Aminatou, que por momentos desvia a atenção do seu bebé. Repara que, com o calor, o restolhar das folhas das árvores se tornou raro. A terra está seca, morbidamente seca. Não há cheiros, o ar possui a qualidade do isolamento. Extenuante, até a noite tem luz. É o tempo do encontro dos homens com si mesmos e, como todo o encontro com si mesmo é pejado de pudor e desonra, Bintou evitou olhar para ela. Mas disso, por não pertencer ao intelecto, Aminatou nunca falará. Aminatou olha para Kiluanji cujas pálpebras se abrem e fecham delicadamente e assiste à revelação daquilo que o faz ser quem é, aquilo que nele é inesquecível e que todos verão ainda no dia em que morrer. Subitamente, o queixo toca na mama e o lábio inferior volta-se para o exterior, deixando a aérola mais visível acima do que abaixo da boca. Aminatou separa-se finalmente do mundo e apazigua-se. Nunca regressará.
6 de julho de 2015
SEGREDOS PELO CAMINHO
A luz do dia bateu no rosto de alguém que dormia.
E esse alguém teve um sonho com mais vivacidade,
ainda que sem acordar.
As trevas bateram na cara de alguém que ia a andar entre a multidão,
sob os raios impacientes e fortes do sol.
De repente escureceu, como quando cai uma bátega.
Eu encontrava-me num quarto com espaço para todos os instantes —
a sala de um museu de borboletas. Ali, porém, o sol brilhava tão intensamente como antes.
Os seus pincéis impacientes davam cor ao mundo.
Tomas Tranströmer
A luz do dia bateu no rosto de alguém que dormia.
E esse alguém teve um sonho com mais vivacidade,
ainda que sem acordar.
As trevas bateram na cara de alguém que ia a andar entre a multidão,
sob os raios impacientes e fortes do sol.
De repente escureceu, como quando cai uma bátega.
Eu encontrava-me num quarto com espaço para todos os instantes —
a sala de um museu de borboletas. Ali, porém, o sol brilhava tão intensamente como antes.
Os seus pincéis impacientes davam cor ao mundo.
Tomas Tranströmer
30 de junho de 2015
17 de junho de 2015
10 de junho de 2015
4 de junho de 2015
29 de maio de 2015
nunca imaginei que uma ternura infinita como a da infância, uma vez perdida, pudesse voltar a existir. e todavia nunca imaginei senão isso. é de facto de uma grande evidência, que nenhuma outra coisa existe senão esse centro de que nos aproximamos, distanciamos e onde, por vezes, nos é concedido entrar. no labirinto tocamos o insondável mas a sua infinitude não me domesticou. o que se levantou dele, porque pôde, apenas escutou. e eu pude: não pronunciei palavra nem fui iludida por nenhuma revelação. até já não ter nada e poder escutar apenas este silêncio, este mistério.
28 de maio de 2015
25 de maio de 2015
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