23 de setembro de 2025

INTERVIEWER

There’s another line in “Stanzas, Sexes, Seductions”—“I want to be unbearable”—that strikes me as exact and expressive of you as a writer.

CARSON

I remember that sentence driving at me in the dark like a glacier. I felt like a ship going toward the South Pole and then all of a sudden a glacier comes zooming out of the dark, and I just took it down. I appreciate that it’s accurate of what I both have and choose to have as my effect on people. I don’t know exactly why that’s the case.

INTERVIEWER

You once said you meant unbearable in a metaphysical sense.

CARSON

Well, yes, it couldn’t be physical, could it? Unless I went around hammering people.

INTERVIEWER

There are those days.

CARSON

With sharp objects. It’s true, that’s why I go to boxing class, to learn those skills. But that’s just, of course, shadowboxing, as they say.

INTERVIEWER

You don’t actually get to hit anyone?

CARSON

You don’t hit anyone, no.

INTERVIEWER

But you often think about hitting someone?

CARSON

In boxing class, yes. That’s why I go. It’s always a surprise who turns up, in the mind, to be hit. It’s not usually the people you expect.

3 de setembro de 2025

Com a passagem do tempo, a exigência do dia-a-dia armadilhado por todo o tipo de violências, e, sobretudo, com o caráter implacável da sobrevivência, quase tudo se tornou relativo, dispensável, e, imersa em notícias que, assustadoras ou obscenas, se tornaram triviais, vivo a minha vida de modo muito pacato e frugal, em paz, embora certamente demasiado restrito. Em contraste com o que aconteceu toda a minha vida, o que me comove passou a ser excecional, a pronunciar-se com uma acuidade que não se confunde com a empatia, e muito menos com a megalomania da infâmia e do horror. É certo que não vejo o que os outros veem. Que evito e me resguardo das imagens, bem como do ruído. Mas é a degradação voluntária que observo que determina a minha impassibilidade glacial, essa, talvez involuntária, com todas as suas consequências.
O que me comove? 
Hoje, como há dez anos, o corpo de um bebé morto à beira-mar. 
Integrei essa imagem na minha peça quando a escrevi, com reservas que ainda mantenho. Se não a consigo ver, por que motivo ostentá-la? Esta, muito mais que a outra pergunta, que normalmente se impõe, sobre a legitimidade de usar este tipo de imagens em objetos artísticos, ou seja, este corpo, me incomodava e me incomoda. Sem dúvida. Este bebé não pode nunca ser subjugado às leis da representação. A vida dele, a vida perdida, o luto irremissível pela sua vida perdida, lembra-nos, ou devia lembrar-nos, que não há para nós redenção.