23 de abril de 2025

Com desmedida vaidade recebi a notícia que o meu último texto publicado na Buala, Ela desnomeia, foi traduzido para inglês. Não tive até aqui muitas oportunidades para publicar, mas a Marta Lança, editora na Buala e na extinta V-Ludo, foi a responsável por várias delas, trazendo-me, desde 2001, convites tão desafiantes como inspiradores. E agora esta alegria.

I was overjoyed to hear that my latest text published in Buala, She Unnames, has been translated into English. I haven't had many opportunities to publish so far, but Marta Lança, editor at Buala and at the long-gone V-Ludo, has been responsible for several of them, bringing me invitations since 2001 that were as challenging as they were inspiring. And now this joy.

20 de abril de 2025

Um passeio descontraído

enquanto caminho
vou contando
ameixeiras e salgueiros

Matsuo Bashô

16 de abril de 2025

“O som aniquila a grande beleza do silêncio.”

Charles Chaplin

6 de abril de 2025

Está online o texto Ela desnomeia, que escrevi, a convite da Buala, a partir do conto She Unnames Them, de Ursula K. Le Guin:

Num ensaio de 1985, intitulado She Unnames Them [Ela desnomeia-os], Ursula K. Le Guin imagina uma contra-história do início da humanidade através da história de Adão e Eva. Todos conhecemos essa história. Ela é-nos contada como uma metáfora para a vida na Terra, onde o esforço se substituiu à abundância do Paraíso, o sofrimento às delícias e a morte à eternidade, uma vez que, por culpa de Eva — a palavra culpa é indeclinável no Antigo Testamento —, fomos banidos da morada divina. No livro do Génesis, logo depois de ter criado o jardim do Éden e dado instruções a Adão para não comer os frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal, Deus mostra a Adão «todas as feras e todas as aves do céu» com o intuito de encontrar para ele uma companhia, para que não ficasse sozinho. Até aqui, no relato da Bíblia, era apenas Deus que tinha o poder de nomear. É através da palavra, do nome, que toda a Criação nasce, incluindo Adão e Eva. Todavia, neste momento, Deus decide que todas as criaturas se conhecerão através do nome que Adão, feito à Sua imagem e semelhança, tiver escolhido para elas e, à medida que vai conhecendo os animais, Adão atribui-lhes um nome. Por isso, quando, logo a seguir, Eva é criada, também recebe o nome que Adão lhe dá. Ora, em She Unnames Them, Eva remove a todas as criaturas, como a si mesma, os nomes que Adão lhes havia atribuído. Uma vez anulada a barreira dos nomes, Eva descobre que ela e as criaturas estão agora mais próximas, tão próximas que o medo e a atração entre elas se tornam um só: «the hunter could not be told from the hunted, nor the eater from the food.»

Ursula K. Le Guin lê She Unnames Them aqui. O conto, originalmente publicado na revista The New Yorker, a 21 de janeiro de 1985, pode ser lido e descarregado aqui.

2 de abril de 2025

Quando alguém desabafa
sobre os seus problemas 
a gente escuta
Quando alguém narra
histórias por que passou
a gente ouve
Quando alguém se propõe 
discutir soluções novas
para problemas antigos
a gente participa 
Quando alguém tagarela
e opina e julga e ajuíza
e se desfaz em considerações 
inócuas sobre o fim do mundo
e a decadência dos povos
a gente enche-se de saudade 
dos melros na berma do rio
e afasta-se em busca de silêncio 

Kazuyoshi Matsubara
[Tradução de Juraan Vink]