25 de setembro de 2024

Torna-se cada vez mais difícil atravessar a cidade. Ir a certos bairros, caminhar em certas ruas, é hoje para mim uma tortura, e o corredor — como aqueles corredores do Indiana Jones cujas paredes se fecham quando lá se entra — está a apertar. Não me queixo da Lisboa caótica, suja e onde há muito a fazer. Tenho saudades dessa cidade. Não suporto o ordenamento doentio das cidades da Europa do Norte ou da Suíça, onde até no outono faltam folhas caídas no chão. Lisboa foi devorada por outdoors gigantes, mupis e afins, com todo o tipo de publicidade a empresas e partidos políticos. Imagens e palavras medonhas, a competirem em agressividade, tamanho e metro quadrado ocupado umas com as outras, de forma intimidante e abjeta. Desviando o trajeto para me refugiar, entrei nos dois pequenos jardins com que me cruzei. O mesmo que se repete em toda a cidade: árvores cortadas, a relva desapareceu totalmente, bancos estragados, e, mesmo assim, conseguem permanecer como bálsamos restauradores, umas bolhas de milagre de onde não queremos sair, também elas ameaçadas. Depois, de repente, numa paragem de autocarro, dois mupis da JC Decaux que não foram vendidos decorados com a paisagem de um bosque. É uma daquelas paragens antigas. Em breve, ela não terá onde se sentar.