Quando tinha cerca de 9 anos, numa brincadeira com o meu
pai e com a minha irmã, descobri que afinal, como sempre tinha
acreditado, não ouvia como os outros. Nos dias a seguir, foi-me dito que
era surda de um ouvido de nascença, havendo forte probabilidade de vir a
ficar completamente surda mais tarde. Foi
num desses dias que coloquei pela primeira vez a pergunta “O que é o
silêncio?”. Com o tempo, o questionamento divergiu para outras
perguntas. “O que é o silêncio para um surdo” passou a “O que é o
silêncio para um mudo” e percebi que há muitas perspetivas sobre o
silêncio, nomeadamente a de ser uma forma de comunicação não verbal
importantíssima. Pergunto-me pois qual é a sua relação com a linguagem.
Se nasceu com o espaço e o tempo. Porque é tão importante para a
religião. Qual é o seu papel na criação. E, como no Atmosphere dos Joy Division, quando é que pode ser perigoso.
Parte integrante do programa As coisas fundadas no silêncio, as conferências dos dias 3 e 4 de março, que terão lugar no Pequeno Auditório da Culturgest, vão andar em torno destas questões. Doze
oradores de áreas das ciências naturais, humanas e das artes, fazem uma
análise crítica sobre o significado do silêncio a partir dos seus corpos
de trabalho, investigação e criação. As suas diferentes abordagens em
diálogo, constitui uma oportunidade e um desafio para pessoas que
normalmente não se encontram.
Jonas Mekas, As I was moving ahead occasionally I saw brief glimpses of beauty. |