27 de fevereiro de 2020

Quando tinha cerca de 9 anos, numa brincadeira com o meu pai e com a minha irmã, descobri que afinal, como sempre tinha acreditado, não ouvia como os outros. Nos dias a seguir, foi-me dito que era surda de um ouvido de nascença, havendo forte probabilidade de vir a ficar completamente surda mais tarde. Foi num desses dias que coloquei pela primeira vez a pergunta “O que é o silêncio?”. Com o tempo, o questionamento divergiu para outras perguntas. “O que é o silêncio para um surdo” passou a “O que é o silêncio para um mudo” e percebi que há muitas perspetivas sobre o silêncio, nomeadamente a de ser uma forma de comunicação não verbal importantíssima. Pergunto-me pois qual é a sua relação com a linguagem. Se nasceu com o espaço e o tempo. Porque é tão importante para a religião. Qual é o seu papel na criação. E, como no Atmosphere dos Joy Division, quando é que pode ser perigoso. 
Parte integrante do programa As coisas fundadas no silêncio, as conferências dos dias 3 e 4 de março, que terão lugar no Pequeno Auditório da Culturgest, vão andar em torno destas questões. Doze oradores de áreas das ciências naturais, humanas e das artes, fazem uma análise crítica sobre o significado do silêncio a partir dos seus corpos de trabalho, investigação e criação. As suas diferentes abordagens em diálogo, constitui uma oportunidade e um desafio para pessoas que normalmente não se encontram. 

Jonas Mekas, As I was moving ahead occasionally I saw brief glimpses of beauty.