Se fazer a história e contar uma história são, na verdade, um só e mesmo gesto, então o próprio escritor encontra-se face a uma tarefa paradoxal. Vai ter que acreditar unicamente e de modo intransigente na literatura - quer dizer na perda do fogo, vai precisar de se esquecer de si-próprio na história que tece em redor das suas personagens e, contudo, nem que seja a esse preço, vai precisar de discernir no fundo do esquecimento os brilhos de luz negra que provêm do mistério perdido.
Giorgio Agamben, O fogo e a História.