20 de agosto de 2018

inocente, começava sempre por espantar-se e, depois, dizia impaciente: «Já sabia». naquele tempo, o sol tinha começado a descer e, pouco a pouco, ía deixando de iluminar o interior do jardim. mas não era ainda tempo de juntar as folhas caídas, lavrar e humedecer a terra, cortar os cepos e proteger os arbustos. não era ainda tempo de espantar-se nem com a leveza nem com a densidade. os olhos, sombrios, entravam a todo o instante em repouso e por dentro deles havia nomes que podiam ser vistos, mas não ditos. a tristeza estava acordada e viva, como um ramo pousado sobre os livros sobre a mesa, mas tudo era agora benevolente como um dia de espiga e podia ser cantado noite fora sem que a criança acordasse. quando ele viu nascer essa manhã de estrelas, percebeu que a esperança era infinita como um ovo acabado de rachar: admirável vida que começa.