3 de novembro de 2017

uma amiga fala-me da insónia que teve esta noite e eu lembro-me, com saudade, das insónias que anos a fio preencheram as minhas noites. tenho, por momentos, um terrível desejo de voltar a esse tempo cheio de intensidade, alegria, vivacidade, mas também de uma enorme, perigosa, vulnerabilidade que constantemente diminuía a minha capacidade de distinguir entre o bom e o mau, entre mim e o mundo e que, portanto, instalava a confusão e a insegurança. na verdade, é com dificuldade que me recordo desses anos, tenho porventura uma certa repugnância em descrever o que então se passava comigo. daí que momentos como este se tornem tão importantes, aberturas para uma realidade que, pelo menos em memória, posso rever por instantes. na altura, os pensamentos sucediam-se tão rapidamente e eram de tal forma flamejantes que se tornava impossível deter-me num. brevemente, contudo, o brilho e a energia davam lugar à angústia e ao mutismo. o que antes sobressaía como compreensão rápida e prontidão, transformava-se em isolamento e disformidade. num momento mágico e fascinante, subitamente o mundo desferia em cheio a sua ameaça. e eu caía.