O Campo
Pensei em ti
quando me dizias para nunca deixar
a caixa de fósforos de madeira, daqueles de emergência,
perdida pela casa, uma vez que os ratos
podiam chegar-lhe e começar um incêndio.
Mas a tua cara estava absolutamente séria
quando enroscaste a tampa da lata redonda
em que os fósforos, como disseste, estão guardados.
Quem poderia dormir naquela noite?
Quem poderia afastar a imagem
de um desses improváveis ratos
caminhando por um cano de água fria
por trás do papel de parede às flores
a agarrar um único fósforo
entre as agulhas dos dentes?
Quem não conseguiria imaginá-lo a dobrar a esquina,
a ponta azul raspando contra a madeira rugosa,
a súbita chama, e a criatura
por um claro e brilhante momento
subitamente levada adiante do seu tempo —
agora um pirómano, agora um portador da tocha
de um ritual esquecido, pequeno druida acastanhado
iluminando uma qualquer noite antiquíssima.
Quem poderia deixar de notar,
iluminados pelo radiante isolamento,
o minúsculo ar de surpresa nas faces
dos ratos seus amigos, outrora co-habitantes
daquela que fora a tua casa de campo?
Billy Collins, Amor Universal.