13 de setembro de 2017
as coisas que ele diz são avolumadas. têm mais definição que o resto dos fenómenos, a sua extensão tem força, firmeza, uma ligeira violência devo dizer, que se acentua ou se atenua conforme o seu bom ou mau humor e, sobretudo, as suas intenções. assim, a sua voz amacia-se ou avulta-se em momentos diferentes de uma mesma conversa. quando nos separamos, os seus discursos ecoam por muito tempo na minha memória, criando nela vincos que resistem ao tempo, largamente isolados dos múltiplos discursos das outras pessoas que encontro. por vezes, é apenas uma palavra que se destaca, tão lisa e contrastante que se mostra colossal perante mim própria. é por isso quase incredível descobrir que, sabe-se lá quantas vezes, dissolvo esses discursos no mar do inconsciente, absorvendo-os como se tivessem origem em mim.