3 de agosto de 2017
um amigo contou-me ontem uma história extraordinária. quando era um miúdo com cerca de 6 anos de idade, costumava passar por um acampamento de ciganos, perto da sua casa. certo dia, a irmã foi fazer-lhes uma doação de roupa e o pequeno acompanhou-a. ao fundo do acampamento, viu uma menina, morena e de olhos verdes, que devia ter a mesma idade. viu-a ele e viu-o ela. dias depois, voltou a passar pelo acampamento para a ver e tentar meter conversa, mas não a encontrou mais. entretanto, o acampamento foi levantado e os ciganos desapareceram. cinquenta anos depois, numa visita à feira de Carcavelos para comprar roupa, o meu amigo para numa banca e vê uma mulher morena de olhos verdes que o vê a ele também. reconhecem-se e falam pela primeira vez, como se fossem amigos há muitos anos. quando ouço estas histórias, penso sempre que ninguém as acreditaria se as inventasse. mas a vida é isto, encontros e desencontros feitos apenas de olhares remotos e de gestos ínfimos que estão na sombra e cuja intensidade, contudo, é de uma beleza pungente.