29 de julho de 2017

cansado da viagem, Luís Salvaterra saiu do autocarro e procurou uma esplanada onde pudesse beber qualquer coisa fresca. encontrou-a do outro lado da rua, vazia e à sombra. comprou o jornal e sentou-se à espera do empregado, que chegou alguns minutos depois. «o que vai ser chefe?», perguntou-lhe. «uma água das pedras com limão e um café curto por favor», respondeu. enquanto ali esteve, não chegou a abrir o jornal. um pequeno pássaro que, sozinho, procurava comida nas mesas, um gato amarelo que passou a fugir do outro lado da rua, uma mulher alta de saia curta que passou lentamente na calçada a olhar para o telemóvel e o vai-e-vem à entrada da estação de comboios, obtiveram toda a sua atenção. tinha ainda que procurar uma pensão. o empregado aconselhou uma no centro da cidade, perto do rio. de jornal debaixo do braço, Luís procurou-a pelas ruas desconhecidas. o prazer de nunca as ter percorrido e, ainda assim, serem vagamente familiares, penetrava o seu ânimo. o rio era verde, com um leito razoavelmente largo e alguns peixes. atravessando uma ponte, chegava-se a um jardim. esta devia ser a vista da pensão, se tivesse sorte. nenhum destino poderia ser mais feliz do que aquele, pensou. para quê seguir os turistas para uma cidade europeia qualquer ou escolher lugares inóspitos? amanhã daria uma volta pela cidade, visitaria o mosteiro e talvez lesse o jornal. deitado na cama do seu quarto sobre uma grossa colcha branca enquanto apreciava o silêncio do crepúsculo, sentiu fome e decidiu escolher ao jantar um prato que nunca tivesse experimentado.