10 de abril de 2017

um poço vazio enche-se de água clara a cada vez que o teu olhar se dirige para mim. refletido nele, em segredo, o meu sorriso dirige-se para o fundo, onde um dragão entreabre e volta a fechar os olhos. sempre vígil, na humidade como na secura, nunca se oculta e nunca se abala. há entre nós um liame subtil, mas não sei o que lhe vai no coração. fico à espreita, procurando um sinal dele entre a sua impassibilidade. talvez sequer bata, talvez seja um produto da minha imaginação. a água clara sobe, o meu sorriso irrompe, oiço uma música ao longe que não sei de onde vem. será que também ele a ouve? nada sei sobre isso. ligada ao dragão imóvel o teu olhar volta a desviar-se. olho para o fundo do poço negro, e, não sei por que sortilégio, não posso partir.