8 de abril de 2017
abandonar o que julgávamos certo coincide com a certeza da instabilidade, que é como um crédito ao vivo. o corpo nunca chega a ser nosso, nunca se chega a conhecer, nunca se torna verdadeiramente habitável. é uma forma em fuga, quer seja moldada pela alegria ou pelo desejo, quer pelo desespero ou pela incógnita. estamos tu e eu aqui e o espaço e o tempo habitam-nos, não os vemos, nada sabemos sobre eles. o coração bate, um pensamento fere, a mão move-se, como se encantada. desço à treva desse encanto muitas vezes como se pudesse encontrar algum indício de contornos. porém, não oiço nada e no regresso venho sempre mais leve, mais vazia. houvesse um encontro (haverá um encontro?) e pelo menos, ainda que brevemente, sentiria medo. poderíamos então ser loucos e sermos nós a trespassar o espaço e o tempo, sermos nós os encantadores, não termos hábitos, caminhar familiarmente entre os tigres da manhã, atentos e em repouso.