26 de dezembro de 2016
Encontrava-me agora numa grande cozinha com mármore negro nas bancadas e uma ilha de madeira maciça onde se cortava pão sobre uma grossa tábua. Pálidos raios de sol atravessavam as portas envidraçadas e criavam um ambiente feérico, ou talvez tivesse essa sensação porque tudo estava finalmente limpo e as facas, os copos, o fogão e o lava loiças brilhassem nos seus lugares. Era uma casa enorme, com grandes salas, chão de madeira e paredes altas. Na cozinha, enquanto a observava terminar a limpeza, tive subitamente a sensação de que o tempo parava, ou pelo menos que abrandava de modo que pude estabelecer, com toda a tranquilidade e lentidão, uma comparação com a minha própria casa, pequena, minúscula de facto, com poucas coisas, apenas o necessário, e voltei a sentir, como por vezes acontecia quando me encontrava dentro dela e parava para pensar nisso, que nada mais desejava. Numa casa grande como esta, não saberia quem sou.