13 de julho de 2016

Ao fim de uma hora chegaram a uma clareira. Avançaram mais duzentos metros e estenderam-se de bruços sob uma árvore. Estava certo assim, mas que peso nos seus corações! Com voz baixa, de tom calmo apesar da respiração pesada, devida ao calor e ao passo acelerado em que tinham caminhado, F. disse:
— O que é?
S. fixou-o com um olhar ausente e deu-lhe uma resposta evasiva, que o surpreendeu. F. continuou:
— É impressionante como você é magra. Uma pele de anémica, uma tez descolorada. Os seus traços são insignificantes. Pelo menos, não está sozinha sobre a terra.
— Porque não?, respondeu S.
E neste instante, F. não encontrou nada para dizer. De tão óbvia, a pergunta desarmou-o por completo, talvez porque o que tivesse preparado para dizer também fosse demasiado previsível. Ou ainda por outra razão. Na verdade, F. não encontrava em S. senão beleza. Uma beleza íntima, que lhe trazia grande satisfação e prazer. Depois de lhe sorrir com um sorriso falso, S. voltou-lhe as costas, expondo a curva do seu dorso. «Ainda não vi tudo», pensou F.
— Onde vive?
— Então, já sabe o meu nome?
— Não sei. Quero apenas conhecê-la melhor.
— Isso depende da sua natureza.
F. deu uma grande gargalhada e depois respondeu:
— Sou um leão sobre uma rocha.
— Sim.
— Então já sabia?
— Se não soubesse não teria vindo consigo até aqui.
— Não fales.
— Não respondas.